A equação da Veja não serve para católicos

terça-feira, março 16, 2010

Por Julie Maria, in http://www.teologiadocorpo.com.br

Refutações contra a equação: Ø filho ↑economia = felicidade

No subtítulo da reportagem da revista Veja do dia 30 de Julho de 2008 intitulada Cadê os Bebês já vemos a ideologia que está por detrás: “Com a taxa de fecundidade em 1.8 filho por mulher, a população brasileira cresce mais devagar. Isso melhora a renda e o padrão de vida no país”: Isso só faria sentido se fôssemos todos capitalistas e ateus, o que não é o caso do Brasil, graças a Deus.

• A bomba populacional que a reportagem cita, e que foi desativada com os dados da última, nunca foi uma verdadeira ameaça. Todos já sabemos que a teoria malthusiana, espalhada pelo mundo inteiro, partiu de princípios que logo foram refutados.
• Mas além de ter sido considerado uma ameaça, a reportagem completa dizendo: “a bomba populacional acaba de ser oficialmente desativada. É uma grande notícia para os brasileiros”. Mas... para quais brasileiros? Para os brasileiros católicos esta notícia é uma verdadeira tragédia, pois mostra que nós estamos longe, bem longe de entender o plano de Deu para a nossa vida e o sentido da criação.

• A reportagem segue e diz: “quando a taxa de fecundidade de um país cai abaixo do patamar de 2,1, a população cresce em ritmo cada vez mais lento e, depois de duas ou três décadas, passa a diminuir de tamanho. É o que vai ocorrer com o Brasil.” Bom, não somos deuses, fazemos aproximações e então poderíamos dizer: “é o que normalmente acontece”. Mas isso pode mudar, porque esta não é uma lei inexorável que o destino preparou: depende de cada uma das nossas decisões do “hoje” em que vivemos.

Como diz o Papa Bento XVI, falando sobre a diferença do progresso material e moral da sociedade: “devemos constatar que um progresso por adição só é possível no campo material. Aqui, no conhecimento crescente das estruturas da matéria e correlativas invenções cada vez mais avançadas, verifica-se claramente uma continuidade do progresso rumo a um domínio sempre maior da natureza. Mas, no âmbito da consciência ética e da decisão moral, não há tal possibilidade de adição, simplesmente porque a liberdade do homem é sempre nova e deve sempre de novo tomar as suas decisões. Nunca aparecem simplesmente já tomadas em nossa vez por outros – neste caso, de fato, deixaríamos de ser livres. A liberdade pressupõe que, nas decisões fundamentais, cada homem, cada geração seja um novo início. Certamente as novas gerações, tal como podem construir sobre os conhecimentos e as experiências daqueles que as precederam, podem haurir do tesouro moral da humanidade inteira. Mas podem também recusá-lo, pois este não pode ter a mesma evidência das invenções materiais. O tesouro moral da humanidade não está presente como o estão os instrumentos que se usam; aquele existe como convite à liberdade e como sua possibilidade.”

Não é somente perigo de sermos tão burros - como nação -, de não enxergar o que está acontecendo na Europa, na qual os governos devem pagar para que as famílias tenham filhos, a não ser que queira que seus países desapareçam do mapa; e sim o grande perigo de usar a liberdade para construir uma cultura da morte, onde a vida, especialmente a vida “improdutiva”, segundo na terminologia capitalista, já não merece viver: os idosos e as crianças. Mas para enxergar este absurdo devemos ter pelo menos uma convicção: que a vida é um bem em si mesma e que estamos chamados a construir uma civilização do amor! E se para o ateu ela não tem sentido e para o capitalista ela só vale se produz lucro, para o cristão -que vive no mundo sem ser dele - a vida é valiosa por uma simples razão: foi comprada não com ouro ou prata, mas com o sangue precioso de Cristo!

Por último, contra os tristes exemplos de famílias que decidiram ter “um ou no máximo dois filhos”, proclamar a beleza inestimável da família numerosa é com certeza um escândalo nos dias atuas. E, no entanto, nunca foi tão necessário. Interessante notar como os filhos da única família numerosa - escolhida pela reportagem - dizem que querem ter no máximo dois filhos, pois não querem viver como seus pais, 'que tiveram 15 filhos e viveram num só quarto’. Gostaria de perguntar para alguns dos 15 se eles preferiam nunca ter nascido em vez de ter nascido e vivido até hoje. Sim, temos que fazer tudo o que está ao nosso alcance para acabar com a miséria, mas quão facilmente se critica os pais por causa de sua pobreza e rejeitam a sua generosidade ao aceitarem os filhos, mesmo sem a condição ideal que gostariam. Foge deste nosso simples artigo uma discussão mais profunda sobre “o problema dos pobres terem muitos filhos”, mas vale a pena também pensar na miséria moral de muitos ricos (não todos - lógico!) que, tendo condições materiais de ter uma família numerosa, escolhem ter poucos... ou nenhum filho.

A família cristã nada contra corrente - como sempre, quando é fiel à sua missão! -, pois sua meta não é que sobre “mais dinheiro para pais e filhos satisfazerem seus desejos de consumo”, como cita a reportagem, e sim colaborar com o dom mais excelso que nada pode comprar: a própria vida, que está chamada desde a concepção a participar da comunhão eterna!

Mas muito longe de ser Deus aquele a Quem devemos prestar culto, fica claro no artigo da revista como a economia é a “deusa” a qual deveríamos prestar o culto para sermos felizes. Ela, segundo a revista, é a que nos dá a referencia de como viver e da meta que devemos ter; daí a obsessão de colocar como exemplos famílias que –finalmente - longe de serem iguais aos seus pais, aprenderam a decidir ter - no máximo - um filho, já que o ideal é não ter nenhum! Tudo a ver com o capitalismo: cada um olhando para seu umbigo, vendo como satisfazer o seu ego, sem enxergar que se os seus pais tivessem usado o mesmo critério eles simplesmente não existiriam.

O Cristianismo proclama que a felicidade do homem não depende da abundância material. Alias, está pode se tornar facilmente motivo de perdição, pois sem critérios morais para o uso dos bens materiais, não existe montante deles que possa satisfazer o coração do homem, e sua ganância só aumenta. Mas se afirmamos, para escândalo de muitos, que a felicidade do homem não depende da abundância material, mais escandaloso é dizer que ela implicará em algum grau, algum sofrimento. Estamos tão cansados de escutar que a felicidade “é ter prazer e não sofrer”, que até mesmos muitos cristãos caem na armadilha deste falso pensamento. O Evangelho mostra que, quando a pessoa é generosa e abraça o Evangelho de verdade, haverá sacrifícios a fazer. Por exemplo, com a decisão de ter uma família numerosa os pais irão passar por muitos sacrifícios, e, no entanto, quando a decisão de ser GENEROSO parte de uma decisão madura, sua vida será feliz! Eis o paradoxo evangélico: quem dar a sua vida vai ganhar... e quem guardá-la vai perdê-la (e dar a vida dói)! Não estamos pedindo para o ateu e o capitalista compreenderem isso. Infelizmente eles vivem com o seu coração só na figura deste mundo que passa, mas para o cristão tudo isso deveria ser óbvio. Por isso, como católicos que somos, vamos colocar outra equação, já que a primeira é uma afronta à nossa vocação:

Generosidade ↑Filhos = felicidade

A vida não é uma ameaça para um mundo melhor! A família numerosa não é uma ameaça para uma sociedade ser competente economicamente. A verdadeira ameaça é o egoísmo. E se o ateu e o capitalista se atrevessem a se perguntar se realmente a equação da revista Veja faz sentido, eles descobririam que não, pois como diz um grande convertido: "nosso coração foi criado para Ti e não descansa até que não descanse em Ti".

No final da reportagem da Veja com a capa “Cadê os bebês”, do dia 30 de Julho de 2008, lemos: “os resultados da pesquisa do Ministério da Saúde se chocam com as previsões do IBGE. Embora a taxa de fecundidade do país venha caindo desde os anos 70, o instituto previa que o índice de 1,8 seria alcançado apenas em 2043. O que provocou esta antecipação?” Para responder a esta questão as jornalistas vão buscar respostas nas diversas “transformações da sociedade”.

Uma delas é a crescente inserção das mulheres no mercado de trabalho e segundo a socióloga Cristina Bruschini “hoje as mulheres trabalham não apenas por necessidade financeira. Elas querem participar da vida do país”. Imediatamente surge a pergunta sobre a vocação da maternidade, pois seguindo este raciocínio somente quem trabalha “fora” participa da “vida do país”. Que visão superficial da maternidade e da “participação”! A melhor participação que alguém pode dar a um país é lhe entregar pessoas maduras, verdadeiros cidadãos cristãos. E não é esta a missão da mãe? Formar pessoas? É preciso revisar nossa vocação, nossos valores, nossas prioridades, para não sermos escravos de ideologias que, como veneno, vão impregnando nossa maneira de pensar, de agir, de ser! “Não vos conformeis com o mundo... para que possais discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, o que lhe agrada e o que é perfeito”, exortava São Paulo (Rm 12,2) ” exortava São Paulo. Ah se fôssemos cristãos autênticos, esta nação seria de fato uma Terra de Santa Cruz! E o que estamos esperando para isso?

Por último a reportagem diz que a baixa taxa da fecundidade se deve ao
“esclarecimento da população a respeito dos métodos contraceptivos. Será? Será que a distribuição de cinqüenta milhões de pílulas e um bilhão de preservativos basta para “formar” os jovens, primeiras vítimas desta propaganda enganosa? Não é o aumento da gravidez na infância-adolescência fruto desta mentalidade? Temos que sair destas soluções superficiais pois a raiz do problema está, como sempre, na educação e neste caso em uma formação integral sobre a sexualidade para o homem e a mulher. E quem melhor do que a mãe para transmitir isso aos filhos?

O desconhecimento total da vocação matrimonial se vê na frase desta esposa, que falando sobre quantidade de filhos na reportagem, diz:
“se tiver mais de um, meu marido me mata”. A própria reportagem diz de onde estas e muitas outras famílias tiram a motivação para pensar assim: “Os personagens de novelas discutem sexo e prevenção de gravidez – e nenhum deles costuma ter mais de dois filhos”. Ai de nós se estes pobres anti-modelos são aqueles que regem as nossas decisões.

Para o cristão a vontade de Deus é o seu guia, vontade refletida na vida dos santos, que sendo de carne e osso como nós, souberam responder ao chamado divino e se realizaram de fato! Eles sim nos devem inspirar! E a Patrícia e seu esposo
mostram que isso é possível h-o-j-e!

Em vez da
equação da revista Veja chegaremos a uma conclusão bem diferente: um país melhor e mais rico é fruto de pessoas que conscientemente e alegremente aceitam sua vocação, e a vocação da paternidade e maternidade tem a finalidade de formar não somente cidadãos, e sim santos, verdadeiros santos!


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Nota da autora do blog: Quando a autora do artigo fala em "capitalistas" e "capitalismo", leia-se "capitalistas selvagens" e "capitalismo selvagem", de vez que a Igreja NÃO condena o capitalismo, mas apenas a sua distorção contrária à dignidade da pessoa humana.

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4 comentários

  1. No caso da família que teve 15 filhos, imagino que a questão não é se eles gostariam ou não de ter nascido, pois não tiveram escolha, é um fato. Porém, agora, eles têm o direito e podem escolher se vão querer se reproduzir como seres humanos ou como ratos. A humanidade não está mais em condições de ficar olhando para o próprio umbigo. Se todas as famílias resolvessem começar a ter mais de 15 filhos, como o planeta conseguiria produzir alimentos e água potável para todos? Seria o colapso completo! Controle de natalidade é exatamente não olhar só para o próprio umbigo. É pensar nas gerações futuras e num planeta plenamente habitável para essas gerações. Não dá mais pra gente se fechar somente nas questões religiosas, temos que ser mais racionais, práticos e menos hipócritas!

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  2. Julia não conhece a pessoa e já chama de hipócrita.

    Engraçado como "hipócrita" é uma palavra que as pessoas usam para dar um ar de "superioridade moral". Basta discordar do que pensa para virar "hipócrita".

    Hipocrisia é pensar uma coisa e fazer o oposto. Não vejo onde os católicos são hipócritas ao terem vários filhos: pensam com a Igreja e fazem o que a Igreja manda, ora! Isso é justamente o CONTRÁRIO da hipocrisia!

    Seriam hipócritas os católicos se cressem com a Igreja, mas fizessem o contrário do que ela manda.

    Ou seja, hipócrita é o católico que usa camisinha, toma pílula etc.

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  3. Caro Rafael,

    Quando eu disse a palavra "hipócritas" não me referi a uma pessoa especificamente e sim a ALGUMAS pessoas da sociedade em geral. Acredito que todos pelo menos uma vez em algum momento da vida, tenham pensado uma coisa e feito o oposto como você disse, afinal de contas somos humanos e imperfeitos.
    Gosto de moda e gosto muito deste blog e quando vi este post, no meu parecer bem polêmico, não resisti a fazer um comentário. Tenho minha opinião e tentei expo-la no blog com a maior franqueza e educação possíveis. Respeito a sua opinião e procuro seguir aquele dito popular de que "Política, futebol e religião não se discute" por mais que às vezes seja difícil manter a boca fechada.

    =)

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  4. Julia, caso entenda inglês, recomendo que visite o site overpopulationisamyth.com Dá pra ter 15 filhos sim, por diversos motivos, e o site os mostra.

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