5 erros sobre moda e modéstia que você pode estar cometendo até hoje - e como consertá-los agora!

terça-feira, junho 30, 2015

A pretexto de buscar a modéstia, muitas acabam indo por um caminho errado e se desvalorizando, apagando a sua natureza feminina. No artigo abaixo, quero identificar os 5 principais erros sobre moda e modéstia que você, sem querer, pode estar cometendo hoje, e ajudá-la a superá-los!




1. Usar um look anacrônico.

Anacronismo, segundo a Wikipedia, "é um erro em cronologia, expressada na falta de alinhamento, consonância ou correspondência com uma época. Ocorre quando pessoas, eventos, palavras, objectos, costumes, sentimentos, pensamentos ou outras coisas que pertencem a uma determinada época são erroneamente retratados noutra época."

Muitas mulheres acham que houve alguma era de ouro nas roupas e comportamentos. É bem verdade que outros momentos históricos foram bem mais salutares do que os nossos em termos de vivência da fé cristã e do recato nas vestimentas. Todavia, mesmo eles eram afetados pelo pecado original e apresentavam problemas. E ainda que fossem quase perfeitos - e não eram - esses tempos históricos não precisam ser revividos em seus aspectos acidentais. Não é porque na Idade Média, quando o Evangelho governava os povos, se usava determinada roupa, que precisamos nos vestir exata e somente aos moldes medievais. Não é porque nos anos 50 do séc. XX, no pós-guerra, a sociedade norte-americana, sobretudo, apresentava moldes muito piedosos e arranjados na constituição familiar, no patriotismo, no cultivo dos valores, que, para nos espelharmos neles, as mulheres de 2015 tenham que usar exatamente os mesmos cortes e tipos de vestidos que as daquela época.

O essencial de algum período mais luminoso da História pode ser cultuado e imitado. E até se pode lamentar o retrocesso nos nossos guarda-roupas, e buscar um resgate retrô de inspirações, cortes, tecidos. Mas simplesmente adotar, in totum, um visual dos anos 50 como se nos transportássemos em uma máquina do tempo, é caricato, soa artificial e pode ficar até mesmo brega. Aliás, pode ficar imodesto também, por chamar a atenção excessivamente!

Vestir-se exatamente como em um determinado período histórico, ou local, que não o seu, se não for uma fantasia, soa anacrônico, e chama a atenção de modo excessivo para si mesma. Alguém que saia nas ruas exatamente como se estivesse na Era Vitoriana poderia estar coberta do tornozelo ao pescoço, porém não seria modesta.

“O movimento da moda não tem em si nada de mau: brota espontaneamente da sociabilidade humana, segundo o impulso que inclina a encontrar-se em harmonia com os próprios semelhantes e com a prática usada pelas pessoas no meio em que se vive. Deus não pede que se viva fora do tempo, descurando as exigências da moda até tornar-se ridículo, vestindo ao oposto dos gostos e dos usos comuns contemporâneos, sem se preocupar jamais com o que lhes agrada. Mesmo seguindo a moda, a virtude está no meio. Aquilo que Deus pede é recordar sempre que a moda não é, nem pode ser a regra suprema da conduta; que acima da moda e de suas exigências existem leis mais altas e imperiosas, princípios superiores e imutáveis, que em nenhum caso podem ser sacrificados ao talante do prazer ou do capricho, e diante dos quais o ídolo da moda deve saber inclinar a sua fugaz onipotência.” (Pio XII. Discurso às Delegações Juventude Feminina de Ação Católica, 22 de maio de 1941)

Como consertar esse erro: estar antenada na moda e ter uma visão nem pessimista nem otimista da época atual, mas realista, sabendo aproveitar o que de bom temos, repelindo o ruim.

2. Desconhecer que a roupa que fica imodesta em um tipo de corpo pode ficar modesta no seu.

Cada tipo de corpo pode ser valorizado ou desvalorizado por um determinado look ou roupa. Dê uma olhada nesses links para entender melhor:




O que é imodesto em uma mulher pode ficar modesto em outra.

É preciso saber que cada pessoa tem uma personalidade e um tipo físico. O que fica bem para mim talvez não fique em outra. Falamos já dos temperamentos, lembram? “A melhor cor em todo o mundo é a que parece boa em você!” (Coco Chanel) Se sou mais avantajada, não posso usar tomara-que-caia, bem como se sou um pouco estabanada, corro o risco de ficar indecente. O fundador dos Irmãos das Escolas Cristãs – conhecidos como lassallistas – compilou um seu opúsculo exatamente isso: “Para que uma roupa seja adequada, é preciso que convenha à pessoa que o usa e que seja proporcional ao seu tamanho, à sua idade e à condição.” (São João Batista de La Salle. Regras de Cortesia e Urbanidade Cristã, 2,3,1,2) Mais adiante, o mesmo santo continua: “O que convém a um não é, certamente, apropriado ao outro.” (Regras de Cortesia e Urbanidade Cristã, 2,3,1,5)

Cabe ao cristão se conhecer; isto sim é regra. Estudar seu temperamento, saber seus pontos fortes e fracos. A partir daí, saberá o que cai bem a si e nas ocasiões a em que estará presente. A caridade para com os outros começa com o autoconhecimento. 

Uma bermuda no meio da coxa, dependendo do corpo, do tecido, da ocasião, do restante das peças, poderá ficar elegante. Em outra pessoa, ou com outro tecido, ambiente ou combinação de peças, poderá ficar vulgar. Em todos os casos, não será modesta, todavia. Mesmo o elegante, mesmo o que não é vulgar, pode ser imodesto. A mulher católica terá de atentar não só para fugir da vulgaridade, como da imodéstia. Não basta ser elegante; tem que ser coerente com a virtude do pudor.

Como consertar esse erro: conheça-se e ao seu corpo, remova preconceitos e ouse, mas com prudência - na frente do espelho primeiro.


3. Demonizar peças que geralmente são usadas de modo imodesto, como se nunca pudessem ser aproveitadas.

A mesma gnose e o mesmo “puritanismo” que consideram a matéria má, que vêem pecado em tudo, que encontram na lei e não na graça (por mais que os puritanos originais, por exemplo, dessem uma primazia à graça, até mesmo de forma exagerada, calvinistas que eram), essa mesma gnose e esse mesmo “puritanismo” enxergam objetos materiais, pois não são espirituais, como maus: assim a bebida é má (não o mau uso que se faz dela), o cigarro é mau (não o abuso do fumo), as tatuagens são más, pintar, sei lá, o cabelo de roxo é mau, usar determinada roupa é mau. A gnose não vê no uso exagerado de uma roupa algo mau, mas a própria roupa. Assim, se uma mulher usa uma calça mais colada, mas em um conjunto que protege o pudor, tomando precauções necessárias, e em um ambiente que não veja isso com maus olhos, ainda assim ela peca para quem tem a mentalidade gnóstica: não são as atitudes da mulher e o abuso da vestimenta calça que tornam essa ação um pecado, mas a peça em si mesma.

O gnóstico, ao não perceber as nuances, e ao considerar “a coisa” um pecado e não o uso que se faz dela (que pode ser bom, mau ou neutro), ataca-a em si mesma, e, mais ainda, tende a ver pecado em coisas absolutamente circunstanciais (um cabelo pintado de roxo combinado com roupas rocker poderia ser imodesto em uma senhora sexagenária, por exemplo, mas não necessariamente em uma adolescente de quinze anos, distinção que o gnóstico e o “puritano” não fazem).

O exagero de alguns apóstolos da modéstia, condenando as calças femininas ou pontificando determinados tecidos ou comprimento de saias e blusas, de modo absoluto, sem levar em conta os tipos de corpos, os ambientes, a época, a cultura, as demais peças que compõem o look, demonstra uma compreensão pessimista da pessoa humana, que fere sua dignidade e parece ver em toda mulher um objeto obrigatório de pecado e em todo homem um tarado em potencial. É óbvio que se peca pelos olhos. É óbvio que é possível ter tentações contra a castidade ao ver uma mulher seminua. É óbvio que uma mulher imodesta concorre para o pecado do homem que a vê. Sem embargo, como se pode perceber no decorrer deste despretensioso livro, é preciso aplicar a modéstia às circunstâncias bem determinadas, e não afastar as pessoas umas das outras, pela repulsa ou pelo entendimento prático de que o corpo feminino seja pecaminoso por si só. Ele é bonito, não deve ser total ou totalmente quase mostrado, mas por outro lado, não total ou quase totalmente coberto como se carregasse uma chaga ou fosse, em absoluto, errado um homem se sentir atraído por uma mulher. A atração pelo corpo feminino é natural e, por isso, neutra: o pecado está no grau da atração e no que fazemos e pensamos com base nesse sentimento.

Sem sombra de dúvida, o laxismo moral deve ser combatido, inclusive nas vestimentas imorais da mulher atual. Mas para isso, não temos de aderir ao rigorismo. Ambos, laxismo e rigorismo, foram condenados como posturas morais pela Igreja.

“Seus vestidos devem ser justos o suficiente para mostrar que você é mulher, e soltos o suficiente para mostrar que você é uma dama.” (Edith Head)


Toda a vida do cristão deve se revestir da graça de Deus para melhor refletir a Sua glória. Também nosso guarda-roupa precisa ser santificado. É preciso que Cristo dele também seja Rei e Senhor! Nossas vestes, além de expressar a nossa dignidade como mulheres, precisa estar sob o Senhorio de Jesus Cristo.

Pio XI, que institui a festa em 1925, nos ensina na Encíclica Quas Primas, pela qual instituiu a festa de Cristo Rei, ser “necessário que Cristo (...) reine no corpo e em seus membros, que, como instrumentos, devem servir para a interna santificação da alma.” (Papa Pio XI. Encíclica Quas Primas, de 11 de dezembro de 1925, nº 34)

Meu apostolado pela modéstia, tanto nas palestras, no blog, nas redes sociais, sempre procurou transmitir essa idéia. Nossos corpos devem ser protegidos e honrados Cristo neles reinando. Não como ódio ao corpo, pois sabemos que um dia ele ressuscitará e a Igreja em que cremos é católica, não cátara, mas por preservarmos as justas hierarquias: o corpo é importante, mas está à serviço da alma!


Brademos como os cristeros mexicanos: “¡Viva Cristo Rey!” Não só na Igreja, não só na alma, mas na sociedade e nos nossos corpos. Sejam eles santificados pelo nosso pudor e por cobrir aquilo que deve ser coberto!

Se temos um tesouro, não saímos anunciando para todos, não é mesmo? Guardemos o tesouro de nosso corpo, no qual Cristo deve reinar, pela virtude da modéstia, vigilante poderosa da própria castidade e da alheia!

É triste que se fale tanto da modéstia das evangélicas e das judias, como se as católicas não procurassem essa virtude, como se as católicas pudessem se vestir de qualquer jeito, não atentassem ao pudor. É velha generalização que parece indicar que católico é qualquer um, mesmo que não viva sua fé, não se comporte como tal, não desse importância a, por exemplo, se vestir sem desagradar a Deus.

Isso, por um lado, é preciso constatar, origina-se no descuido que muitas moças e senhoras católicas têm, nos últimos anos, para com suas roupas. Realmente, a maioria não está se vestindo com pudor, como convém a uma católica. Todavia, não acho que por conta do erro de várias, deva-se ignorar que católicas buscam, sim, a modéstia no vestir, como se só evangélicas e judias é que “se ligassem” no vestuário recatado.

Por outro lado, talvez seja positivo esse pensamento em um sentido mais profundo. Embora católicas devam, sim, cuidar do modo como se vestem, devam, sim, atentar ao pudor, ao recato, à modéstia, devam, sim, vestir-se sem desagradar a Deus, devam, sim, evitar a moda mundana, elas não seguem um “padrão rígido”, uma “lista do que pode e do que não-pode”. A moral evangélica, na maioria dos casos, é puritana (no sentido moderno e que extrapola o próprio puritanismo dos primeiros calvinistas) ou, em algumas igrejas, feita por “usos e costumes”.

Católicas deveriam buscar a modéstia – e meu principal apostolado tem isso como um de seus objetivos –, mas sem aquela “neura” por medir centímetros ou procurar SEMPRE enquadrar uma determinada roupa no rol das peças proibidas. Claro, algumas vestes são absolutamente inadequadas, pela impossibilidade de adaptá-las a um modo mais recatado, ou por não ficar modesta em nenhum tipo de corpo. Em geral, porém, a católica bem formada sabe que, ao mesmo tempo, deve ocupar-se da virtude do pudor e do recato, e igualmente raciocinar por princípios e não por “listas”.

Ora, se é verdade que não há um “padrão católico”, um “catholic dress code”, é também verdade, por outro lado, que as católicas, como as evangélicas e judias, prestam também atenção em formas, decotes e comprimentos! Não para analisar os milímetros, não para condenar todo e qualquer tipo de decote, mas prestam atenção, sim, e as análises sobre modéstia em geral erram ao não incluir essas mulheres, ignorando-as como se só judias e protestantes buscassem a modéstia.

Algumas cristãs, católicas ou não, acabam por aderir aos padrões do mundo. Em minha experiência, raramente tenho encontrado quem, professando sua fé em Cristo com sinceridade, deliberadamente opte por se vestir com imodéstia. A maioria das cristãs que traja vestimentas que não condizem com o recato coerente com a sua dignidade o faz por ignorância. A falta de uma formação no tema da castidade aplicada, na modéstia dos trajes, na psicologia feminina e masculina, em rudimentares conhecimentos antropológicos e sociológicos, e a até uma certa imaturidade na fé, ainda que esta seja sincera, acabam refletindo na pouca importância que elas dão aos seus trajes. E se nós já estamos convencidas da necessidade de santificar o nosso guarda-roupa, devemos considerar que isso é uma especial graça de Deus e que um dia talvez, em um nível ou outro, já nos vestimos ou pensamos sem os mesmos critérios claros que hoje temos. É preciso ter misericórdia daquelas que ainda não estão no mesmo nosso caminho da modéstia, orar por elas e com sabedoria, prudência, critério mansidão ir desenvolvendo uma amizade mais profunda que dê condições de uma verdadeira abertura de alma a ponto de poder tocar diretamente nos pontos problemáticos. Enquanto isso não ocorre, dar conselhos genéricos, sem apontar o dedo acusador, é uma boa tática também. Nunca, porém, devemos nos arvorar em juízes da santidade alheia, como se nós mesmos fôssemos já canonizadas ambulantes ou a perfeita imitação da Virgem Maria, lançando olhares pouco caridosos para nossas irmãs que ainda não chegaram a esse nível de entendimento do assunto das roupas e do recato.

Chanel já ensinava: “Moda é arquitetura: é uma questão de proporções.” Há, pois, uma necessidade de saber adequar a roupa ao estilo de corpo, ao ambiente, à cultura, ao momento do dia, para que soe elegante. Uma vestimenta absolutamente deslumbrante pode, magicamente, tornar-se brega apenas pela perda do senso de proporções.

Não só na elegância essa regra se aplica. Para a modéstia vale o mesmo, e, dado que esta é um plus em relação à elegância, é preciso ter ainda mais cuidado.

Impressionante como, a pretexto de uma roupa mais confortável – o que nem sempre é verdade –, algumas mulheres, por vezes até com “certa idade”, investem na vulgaridade, na moda sexy, mostrando por demais suas curvas e partes íntimas, abusando do uso legítimo de uma calça jeans.

Se, por um lado, não precisamos, para defender a modéstia, nos vestir como certas igrejas protestantes, por outro lado, a superexposição da figura feminina leva a perdermos valores universais como o pudor, a castidade, a maternidade, a família...

Afastemos a vulgaridade e provemos que é possível ser modesta sem abrir mão da elegância, ser casta sem deixar de ser contemporânea. Aliás, a verdadeira elegância é modesta e não sexy.

Algumas roupas são quase impossíveis de ser aproveitadas em um visual modesto, mas outras podem ser "jogadas" e combinadas com sabedoria. Uma bota over the knee pode até nos lembrar algumas prostitutas, mas usadas por cima da calça, ou com uma legging - cobrindo o bumbum -, ou ainda com uma saia um pouco mais curta desde que não mostre tanto a perna, pode ficar bem em alguns corpos a depender do ambiente. Uma blusa decotadíssima é imodesta, mas um tapa-decote ou uma echarpe resolvem o problema e o look fica modesto. 

Como consertar esse erro: ter bem presente que quase não existem roupas imodestas - repare no "quase" - , mas looks imodestos.


4. Adotar um visual cafona a pretexto de ser modesta.

Esse erro é muito próximo do primeiro, e muitas vezes com ele se confunde. Escandalizadas com parte da moda atual, e com razão, acabam achando que, para ser recatada, é preciso vestir-se com um padrão apagado, sem graça, "aguado", e apenas com estampas - mal feitas - de florzinhas. Até pode ser recatado, mas nem sempre é elegante. Vejo sites e blogs americanos de cristãs de mentalidade mais "amish" e realmente, apesar da boa intenção, a vontade é de chorar de tristeza por tantas mulheres aprisionadas em uma redoma a pretexto de recato - melhor dizendo, por uma falsa compreensão do recato.

Condenar a maquiagem e roupas mais ajustadas, fazer cara feia para qualquer coisa que venha da indústria da moda, posar para fotos com um ar artificial como se fosse uma santinha - sendo casada ou querendo casar-se - com as mãos postas, nada de sorriso, olhar vazio, quase uma caricatura de cristão, tudo isso não demonstra a alegria cristã. Não é preciso definir a cafonice e a breguice. Você sabe que algo é cafona quando vê. E modéstia NÃO é cafonice.

A deselegância é, na verdade, um vício contra a verdadeira modéstia: andar desalinhada, sem dar atenção à harmonia das peças que formam o look, não produzir uma beleza estética honesta em sua roupa, ser uma “Maria-Mijona” achando que isso é modéstia, em suma, ser brega e cafona como se isso agradasse a Deus. Também é defeito contrário à modéstia no vestir a falsa humildade, retratada em algumas fotos, aquela simplicidade que não é fruto da mente bem formada, mas da vaidade (“olhem como eu sou simples, como eu sou santa, e como visto de modo singelo”). Essa falsa simplicidade é um vício, é pecado, porque chama a atenção para si por ser aparentemente modesto no exterior, e querer ser notada por isso. É a soberba camuflada de humildade, a jactância da própria santidade, uma forma de hipocrisia até mesmo.

O tema se torna mais fácil com as explicações acima. Modéstia nas vestes está relacionada com a modéstia interior e com a modéstia no comportamento. Além disso, são imodestos tanto os excessos quanto os defeitos. É imodesto ser excessivamente “ligada” na moda e andar com roupas que ferem o pudor, como é igualmente imodesto pouca atenção dar à moda e aos adornos e pregar um recato cafona, desligado do tempo, do ambiente, do lugar e do tipo de corpo e especial circunstância pessoal da mulher. A chave para entendermos o que Deus quer de nós nesse campo é o bom senso, não listas fechadas do que pode e do que não pode ser usado. Importa defender o pudor pela modéstia.

Uma moça, ainda que com roupas bem modestas, mas sem maquiagem que lhe dê um “brilho”, vestindo peças cafonas, desconexas com a tendência atual, combinando pouco, atrai olhares para si por causa de seu aspecto, e isso não é modesto, como falei. Já outra que está também com roupas bem modestas, mas no geral não destoa das demais, atrai olhares para si apenas pelo detalhe. É como se aqueles que a notassem, percebessem algo de diferente e se encantassem com isso, ao contrário de ter repulsa. Olhariam para essa segunda mulher modesta - a que também é elegante - e veriam que ela não precisa adotar o visual de uma seita qualquer para respeitar o pudor, veriam que ela somente está recatada, discreta, mas dialogando com a cultura em que vive, e não parecendo uma personagem de romance ou uma militante de qualquer tipo de utopia. Ao agradar os demais, se há reta intenção, agrada-se a Deus, e se celebra a verdade pela via da beleza, a via da pulcritude, tão cara à espiritualidade católica. 


O Senhor nos criou com evidentes diferenças entre homem e mulher, não só nos aspectos psicológicos e afetivos, como corpóreos, e descabe a nós proscrever o que Ele mesmo fez de modo claro, com roupas que, em nome de um mal-entendido conceito de pudor, tiram toda a graça da feminilidade, deixando a mulher brega, mal-vestida, cabisbaixa... Entre os extremos da imodéstia e falta de pureza nas roupas, de um lado, e da concepção de que o pudor se mede com fitas milimétricas ou com cartilhas do que pode ou não usar, há que se entender exatamente o que venho tentando explicar. O exagero de alguns apóstolos da modéstia, condenando as calças femininas ou pontificando determinados tecidos ou comprimento de saias e blusas, de modo absoluto, sem levar em conta os tipos de corpos, os ambientes, a época, a cultura, as demais peças que compõem o look, demonstra uma compreensão pessimista da pessoa humana, que fere sua dignidade e parece ver em toda mulher um objeto obrigatório de pecado e em todo homem um tarado em potencial. É óbvio que se peca pelos olhos. É óbvio que é possível ter tentações contra a castidade ao ver uma mulher seminua. É óbvio que uma mulher imodesta concorre para o pecado do homem que a vê. Sem embargo, como se pode perceber no decorrer deste despretensioso livro, é preciso aplicar a modéstia às circunstâncias bem determinadas, e não afastar as pessoas umas das outras, pela repulsa ou pelo entendimento prático de que o corpo feminino seja pecaminoso por si só. Ele é bonito, não deve ser total ou totalmente quase mostrado, mas por outro lado, não total ou quase totalmente coberto como se carregasse uma chaga ou fosse, em absoluto, errado um homem se sentir atraído por uma mulher. A atração pelo corpo feminino é natural e, por isso, neutra: o pecado está no grau da atração e no que fazemos e pensamos com base nesse sentimento.
 
Como consertar esse erro: procurar expressar a alegria de ser cristã também em suas vestes, sabendo que, embora não sejamos do mundo, estamos no mundo.



5. Considerar que, para ser modesta, é preciso apenas usar roupas que não se usava antes de conhecer o que é essa virtude.

Uma leitora me escreveu certa vez: no seu blog só encontrei roupas que eu já usava antes de conhecer a modéstia. Ora, o problema dessa dúvida é um só: tratam"modéstia" como se fosse um grupo, um movimento, ou algo do tipo. "Eu conheci a modéstia" é a expressão usada. Ora, isso faz tanto sentido quanto dizer "eu conheci a castidade" ou "eu conheci a honestidade". A modéstia é uma virtude. Claro, podemos conhecer as virtudes, mas não nesse sentido de dar a entender que é um grupo ou jeito de ser.

“A modéstia é uma virtude derivada da temperança que inclina ao homem a se comportar nos movimentos internos e externos e no aparato exterior de suas coisas dentro dos justos limites que correspondem a seu estado, engenho e fortuna.” (ROYO MARIN, Pe. Antonio, OP. Teología de la perfección cristiana, Madrid: BAC, p. 612, nº 503)

Não há, vejamos, uma lista do que pode e do que não pode. Modéstia não é um grupo com um vestuário característico, um uniforme. Sei que em teoria muitas não pensam assim, mas aquela pergunta revela uma adoção prática, ainda que inconsciente, dessa postura, e em verdade muita gente assim pensa e age, porque foi mal formada nessa virtude. De tanto ver imodéstia no mundo, aderem a um estilo radical como se fosse o remédio para todos os males, esquecendo que se o laxismo é condenado o rigorismo também.

A origem da palavra “moda” é a mesma do verbete “modéstia”, como nos ensina um Papa de veneranda memória. “Moda e modéstia deveriam caminhar juntas como duas irmãs, porque ambos os vocábulos tem a mesma etimologia; do latim ‘modus’, quer dizer, a reta medida, além e aquém da qual não se pode encontrar o justo.” (Pio XII) Nesse sentido, a moda será, no mais das vezes, neutra, apresentando-se pecaminosa quando configurar ocasião de pecado para si ou para o outro – levando ao pecado contra a castidade, por pensamentos e olhares, por exemplo.

Então, ao "conhecer a modéstia" eu devo adotar radicalmente outro guarda-roupa, jogando fora todas as minhas roupas ou a maioria delas? Para ser modesta eu devo, sempre, andar na contramão do que os outros usam? Então, se saia até os pés estiver na moda, eu, para não ser mundana, devo passar a usar minissaia? Evidentemente não e ninguém sustentará tal absurdo. Porém ele é o corolário, a conclusão lógica desse pensamento. 

Não somos modestas por ter um uniforme que choque ou que já nos denuncie. É algo mais sutil e delicado, como tudo o que envolve a feminilidade.
 

Conversando com outra amiga, Alessandra Leão Salvioni, católica, psicóloga e consultora de moda e imagem, concordamos que a modéstia é também não querer atrair a atenção exageradamente para si, mas, ao contrário, ficar agradável aos olhos do outro, não criando excitação nos homens que não seu marido nem surpresa demasiada nas mulheres.

Dizia a Alessandra que, por isso, a “perua” não é, em profundidade, modesta. Pode até usar roupas recatadas, mas no fundo não vive a verdadeira modéstia, dado que ela tem tantos adereços que, por onde passa, só chama a atenção para si mesmo. Por isso que a modéstia e a elegância devem sempre andar juntas, em função do zelo e da discrição próprias da condição feminina. Continuava a Alê a dizer que uma mulher “mal vestida e com cara de doente, sem maquiagem, não é modesta, pois está atraindo olhares para si, por ser excessivamente diferente das demais”.

A Alessandra está correta. Meu marido e eu meditamos sobre isso certa feita. É evidente que a mulher católica que vive a modéstia, que acredita na virtude do pudor, não andará conforme modas mundanas, não usará decotes ousados, roupas coladíssimas ao corpo sem a necessária proteção, nem peças curtas demais. Todavia, o “ar” da roupa de uma mulher católica, não é diferente da sociedade em que vive. Ela não adota um uniforme de uma comunidade separada - exceto se realmente for, como o caso das religiosas. Pensar em leigas, solteiras ou casadas, que destoam completamente, em suas vestimentas, do mundo em que estão inseridas, parece-me a perfeita realização do que alguém certa vez declarou ser uma espécie de “amishização da fé católica”.

Em linhas gerais, a roupa da cristã piedosa e da mulher que não se preocupa com o pudor não diferem nem devem diferir, pois a roupa é um dado da cultura e ambas estão inseridas no mesmo ambiente. Notem, todavia, que falo “em linhas gerais”, ou seja, que ambas, modesta e imodesta, usarão, basicamente, as mesmas coisas, pois é isso que, habitualmente, é o comum em sua época e lugar: tal tecido da moda, determinado corte que é a tendência, calças, saias, vestidos, tipos de adereços ou de maquiagens etc. Ressalto novamente que falo "em linhas gerais", de sorte que, nos detalhes, se verá claramente que a mulher piedosa veste-se de modo recatado. Mas é uma peça recatada - ou um uso recatado de uma peça neutra -, que deriva do mesmo gênero de roupa que todas usam em sua ambiente sócio-cultural. Não é algo saído da ficção, ou de outro planeta, ou de uma época que já passou.

Se eu apareço em uma festa de família ou entre amigos, estarei com saia ou calça tanto quanto outras estarão, e isso não me fará destoar de modo a chamar tanto a atenção para mim. Não provocarei surpresa com um figurino absolutamente distinto do que é visto como normal. Claro, isso não é desculpa para usar minissaias, calças "socadas", blusinhas mostrando os seios etc. Recordo que falei "em linhas gerais". A roupa que usarei é a mesma, no macro, que as demais, todavia se diferenciará pelo micro, pelo detalhe. Se uma veste uma calça "socada", estarei com uma calça decente. Se outra veste uma saia curtíssima, estarei com uma saia que não revele o que não deve ser revelado. Mas ambas estarão de calças ou de saias.


De um site calvinista especialmente dirigido às mulheres trago um trecho que explica isso muito bem:

“Então, isso significa que mesmo que você considere que shorts são modestos na América do Norte, seria imodesto e tolo usá-los no Oriente Médio. Seria imodesto usar um lenço na cabeça no Sul do Sudão, porque lá o lenço está associado com o Islã e é ofensivo. Se você se mudasse, digamos, da Dinamarca para Indiana, seria provavelmente imodesto que você continuasse usando roupas que parecem futuristas para as pessoas de lá.


Mas, se você se mudasse, talvez, de Grand Rapids para Los Angeles, você teria que usar um biquíni para se ajustar e ministrar à multidão da praia? Não. Você deve sempre se ajustar a uma cultura respeitando as orientações bíblicas de cobrir partes inapresentáveis, independentemente da cultura em que você vive. Elizabeth Elliot usou roupas modestas e ministrou com sucesso a uma tribo que se vestia com cordas e miçangas.

Na maioria das vezes, podemos ser biblicamente modestas ao sermos culturalmente sensíveis sobre o que vestir. Este é apenas um aspecto de ser ‘todas as coisas para todos os homens’, e não causar ofensa desnecessária ou chamar atenção desnecessária para si mesma. É por isso que missionários como Hudson Taylor e Amy Carmichael adotavam a veste local enquanto tentavam ministrar o evangelho. Sensibilidade cultural na maneira de se vestir é simplesmente amar o próximo através de um vestuário modesto.” (Rebecca VanDoodewaard. Com o que a modéstia cristã se parece – Parte 2, trad. de Arielle Pedrosa. http://www.mulherespiedosas.com.br/modestas-crista-parte-02;. Acesso em: 22 mar 2015)


Como consertar esse erro: fugindo dos descaradamente vulgares, evidentemente, acessar bons blogs de moda, entre os quais aqueles que cito aqui: http://www.blogfemina.com/p/blogs-cristaosmodestos-de-moda.html e http://www.blogfemina.com/p/blogs-de-moda.html e procurar tirar bom proveito do que a moda nos traz. 

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9 comentários

  1. Amei! Foi coisa mais sensata sobre modéstia que eu já li. Parabéns!!!

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  2. Nossa Aline que excelente post, tenho a mesma opinião que você. Muito esclarecedora sua opinião ao afirmar que: o que fica imodesto em uma pessoa pode ficar modesto em outra e ressaltar o quanto é importante a pessoa se conhecer, também concordo em afirmar que: uma mulher mal vestida acaba atraindo olhares excessivamente diferente e que isso não tem nada haver com modéstia, infelizmente muitas mulheres são ensinadas de maneira errada pois muitos só se preocupam em afirmar que tudo é pecado mas poucos tem conhecimento sobre a verdadeira modéstia.
    Deus te abençoe querida.

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  3. Aline, muito obrigada!
    Estou descobrindo e amando cada vez mais essa virtude - apesar de ainda precisar mudar alguma coisa do meu vestuário. Há um tempo, estive nos "blogs da fita métrica" e, deparando-me com todas as regras, os "pode" e "não pode" começava a ficar neurótica. Aí eu conheci, dentre outras coisas, o Femina. O bom senso e a coerência disso aqui é imbatível. Que o Espírito Santo ilumine este espaço e todo seu apostolado!
    Mais uma vez obrigada. Foi a coisa mais sensata sobre modéstia que eu já li também. Rs
    Abraços!

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  4. Magnífico texto! Obrigada Aline. Ajudou me e inspirou me muito!

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  5. Não sei, só vi roupas que vejo nas ruas todo o dia. Por essa matéria, tudo é modesto, inclusive os decotões que vi em algumas fotos.Passou a impressão de que desde que não seja micro, tudo bem.Santo Padre Pio ensinou diferente.

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  6. Então, Meire, você se encaixa perfeitamente no ponto 5. Sugiro que releia. E daí que essas roupas sejam vistas nas ruas todos os dias? Já que outros usam, então nós, os "modestos", vamos usar outras? Releia, releia, releia. É mais simples do que pensas. E vocês acabam complicando tudo, inclusive distorcendo o Padre Pio.

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  7. Post maravilhoso e extremamente esclarecedor, como todos. Vim a entender o que era modéstia porque li seu blog e percebi o anseio que sempre tive, mas nunca havia entendido o que era. Aliás, obrigada, de verdade.

    Quando começamos a nossa busca por uma mudança de vida, corremos o risco de cometermos todos os erros que você nos disse. E como eu ainda vejo pessoas dizendo que "temos que usar blusas de manga" como se fosse uma condição para sermos de fato católicas, sem nos explicar as motivações desse uso e o que está por detrás disso. A roupa nos veste, mas quem escolhe o que vestir somos nós. E ela precisa ser reflexo daquilo que trazemos dentro de nós. Quando compreendemos isso com clareza, a modéstia se torna nossa verdadeira companheira e a escolha de nossas roupas se torna naturalmente recatada.

    Novamente, obrigada por seus posts, seu blog e seu exemplo. Deus abençoe!
    Shalom

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  8. É exatamente em tudo isso que acredito. Mas e quanto ao uso do véu na Sta Missa? Para mim, também é um caso "anacrônico". Acho lindo!!! Mas totalmente atemporal, não?

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  9. Janice,

    O véu é, como disseste, atemporal e, por isso mesmo, não pode ser anacrônico. Até porque se trata de um costume piedoso e bimilenar. :)

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