Muito me impressionam os tempos contraditórios em que vivemos. Nós, mulheres, lutamos contra o tempo, queremos beleza a todo custo, a juventude eterna. O que era natural, como crescer, abraçar sua vocação primária – seja o matrimônio ou a vida religiosa – e envelhecer com dignidade e uma bonita história que nos faça olhar para trás quando nos preparamos para um acerto de contas com o Criador, foi esquecido, abafado. Tudo isto decorre de uma sociedade corrompida e sem Deus.
Vivemos tempos loucos na correria pela vida confortável, pela busca incessante por dinheiro e poder. Clínicas estéticas crescem cada vez mais. Nada contra, acho que temos a obrigação de nos cuidarmos, mas o que me assusta é que, por exemplo, os cursinhos de artes manuais e as livrarias não acompanham este ritmo. O incentivo ao culto do corpo é a mais vil consequência de nossa sociedade antropocêntrica, herança desgraçada do “tempo das luzes”. Parece que nos aproximamos da Grécia antiga, mas apenas em seus vícios.
Por que cada vez mais encontramos jovens perdidos, sem saber o que querem da vida? E homens e mulheres que, na idade da maturidade, têm medo do casamento e preferem morar com papai e mamãe, no conforto do lar, sem ter a coragem de passar trabalho? Como na reportagem da revista Veja de 15 de abril de 2009, onde jovens afirmam que é mais fácil, pois assim, além de ter o conforto de não se preocupar com o cuidado de uma casa, podem economizar o dinheiro que ganham com seu trabalho para outras atividades, como se fosse uma mesada extra.
Há uma doença que se alastra por toda sociedade, é um mal celebrado por todos. É a tal “síndrome de Peter Pan”, o homem e a mulher que não querem crescer. Ou porque têm medo, ou por puro comodismo.
O fato é que isto é celebrado nos dias de hoje. Homem que se veste como homem, e não como marginal ou uma criança, é raro! O mesmo com as mulheres: usam roupa vulgar ou se escondem atrás de um aparente desleixo para não serem notadas. Evidentemente, aparência não é tudo, porém o exterior deve refletir o interior. E o interior se revela também pelas atitudes, não só pelas roupas: medo do compromisso mais sério, medo de administrar um lar, medo de ter rugas e por aí vai.
Sintomas de uma sociedade egocêntrica, onde nos colocamos a nós mesmos como critério. Somos felizes assim? Nossas mulheres estão contentes com todo este feminismo e liberalismo? Nossos homens estão contentes em terminar suas vidas sozinhos ou com um histórico de uma família infeliz?
É realmente interessante para seus inimigos que continuemos “eternos jovens”, desmiolados, confusos e perdidos. Assim como ovelhinhas facilmente manipuláveis.
Onde estão as famílias que se reúnem no domingo para almoçar, e até mesmo brigar e depois se acertar? Lutar juntos pelo casamento, com todos os seus contratempos, ir à missa juntos e crer que tudo que vivem é somente por amor. Não o sentimento efêmero e enganoso de uma paixão, e sim um amor que só nos enche de vida e de paz, o verdadeiro amor, que vem de Deus.
É somente por meio deste amor que somos capazes de superar todas nossas crises e ultrapassar as etapas que temos que passar. Crescer dói, cansa, machuca, mas se temos a Cristo como amparo, como aquele pai que nos enche de força, e à Igreja como nossa mãe, aquela que nos dita o caminho pelo qual devemos andar, nada temeremos.
Por Daniel Pinheiro
http://teologiadocorpo.wordpress.com/2009/04/20/como-a-mulher-se-veste-hoje/
Há algum tempo soubemos que um primo de nossa família, que mora no interior do Ceará, passou por uma grande dificuldade. Um dia, ligaram para ele de uma loja de São Paulo, dizendo que ele tinha uma dívida lá de mais de mil reais. Ele nunca foi pra São Paulo, e nunca fez compras nessa loja.
Ele descobriu, com isso tudo, que algum espertinho tinha aberto uma conta com os dados dele - identidade, CPF, e nome completo - em um banco de São Paulo, e tinha conseguido um certo crédito, usando-o para gastar mais de dois mil reais em várias lojas. Foi um tormento para ele provar que não tinha nada a ver com aquilo. Engraçado que ele não tem muitas contas, nem faz muitas compras por aí para que o número de seus documentos fique circulando pelo mundo. Depois disso tudo, ele redobrou os cuidados. Afinal de contas, seu nome e o número de seus documentos tinham sido usados por outras pessoas para proveitos egoístas.
Fiquei pensando, então, sobre a importância de guardar aquilo que é nosso, que tem valor para nós, para que não seja usado por pessoas que muitas vezes nem conhecemos. Imagine que uma grife quisesse divulgar uma nova moda de estampar nas camisetas o nome completo, o número do CPF e da identidade da pessoa. Creio que essa moda não ia pegar.
Ninguém, em sã consciência, sai por aí divulgando seus dados pessoais.
No entanto, temos algo de muito mais valioso que nosso nome, nosso dinheiro ou nossos documentos. É o nosso próprio corpo, que faz parte, da maneira mais íntima possível, do "todo" que somos como pessoas, como seres humanos.
Percebem como é ilógico que a moda e sociedade ditem parâmetros que fazem as mulheres mostrarem demais seu corpo? Ficaríamos surpresos com alguém que estampasse na camiseta o nome completo e o número dos seus documentos. Afinal de contas, alguém poderia usar aquilo para fins não muito bons, em detrimento da própria pessoa. Muito mais, porém, deveríamos nos espantar ao ver mulheres que mostram demais o próprio corpo, que é muito mais valioso do que nome ou documentos. Assim, de certo modo, elas se permitem ser usadas por aqueles que, certamente, olharão para ela com luxúria. Há prejuízos na dignidade tanto de quem olha como de quem é vista.
Tudo isso nos faz pensar como é sedutor o discurso da moda, da sociedade, da "revolução sexual", para que tenhamos chegado ao ponto de considerar normal, natural, e desejável esse tipo de "uso" do corpo.
O Papa João Paulo II disse que há uma oposição entre o amor e a atitude de "usar" uma pessoa para o próprio deleite. Ele chama essa atitude de "utilitarista", e lhe faz muitas críticas. Segundo ele, "o utilitarismo introduz uma relação paradoxal: cada uma das duas pessoas toma fundamentalmente a atitude de assegurar o próprio egoísmo, e ao mesmo tempo concordar em servir ao egoísmo do outro, desde que isso lhe ofereça a ocasião de satisfazer o próprio egoísmo. (…) [Essa atitude] prova essencialmente que a pessoa (…) se rebaixa ao nível de meio, de instrumento, (…) [o utilitarismo] é uma espécie de antítese do amor" (Amor e Responsabilidade, p. 33).
Para João Paulo II, só o amor dignifica a pessoa. Em suas palavras, "a pessoa é um bem tal que só o amor se relaciona com ela própria e plenamente".
E então? Que tal agora se perguntar sobre a maneira como me visto e me comporto? Será que ela está induzindo o outro a me ver como um "instrumento" para seu prazer, em uma atitude "utilitarista"? Ou será que ela está suscitando no outro o desejo de me amar pela minha pessoa inteira, corpo e alma, e não só o corpo?