A mulher e a moral cristã
“A mulher não nasce, se faz”. Esta frase de Simone Beuavoir, líder feminista radical, se converteu em um verdadeiro estandarte deste movimento. Vários fatos concorreram para isso: a revolução sexual e feminista inspirada em um neo-marxismo, e facilitada pela pílula anticoncepcional, desenvolvida na década de 60.
O movimento feminista radical inspirou-se no marxismo e criou a tal ideologia de “Genero” (do inglês Gender). Para Karl Marx, toda a história é uma luta de classes, de opressores contra oprimidos, em um batalha que terminará só quando os oprimidos se conscientizarem de sua situação, fizerem uma revolução e impuserem a “ditadura dos oprimidos”. A sociedade será, então, totalmente reconstruída e emergirá a “sociedade sem classes”, livre de conflitos e que assegurará a paz e prosperidade utópicas para todos. Isto foi aplicado na Russia, China, Cambodja, Viet Nam, Laos, Cuba, etc. e gerou 100 milhões de mortos, e nada gerou de bom.
Foi Frederick Engels quem colocou as bases para a união do marxismo e do feminismo. O feminismo do “gênero” foi lançado pela primeira vez por Christina Hoff Sommers, em seu livro “Who stole feminism?” (Quem roubou o feminismo?)
A ideologia do “gênero” reinterpretou a história sob uma perspectiva neo-marxista, em que a mulher se identifica com a classe oprimida e o homem com a opressora. O matrimônio monógamo é a síntese e expressão do domínio patriarcal. Toda diferença é entendida como sinônimo de desigualdade, e portanto é preciso acabar com ela. O antagonismo se supera com a luta de classes. Então, as mulheres “devem ir à luta”.
Essa ideologia penetrou nas Nações Unidas (ONU) e então começou sua carreira ascendente. A primeira conquista foi em Pequim, em 1995, na IV Conferência da Mulher, da ONU, com um documento final que estabelecia uma série de pautas para implantar a ideologia. Desde então esta ideologia está se infiltrando cada vez mais nos costumes e na educação (colégios, universidades e meios de comunicação).
A tal ideologia de “gênero” (gender) hoje exige a eliminação de qualquer tipo de diferenças sexuais. Esta perigosa ideologia difunde que a moral cristã é discriminatória a respeito da mulher, e que é um obstáculo para seu crescimento e desenvolvimento; logo, precisa ser destruída. Assim, muitas organizações feministas promovem o aborto, o divórcio, o lesbianismo, a contracepção, o ataque à família, ao casamento, e, sobretudo à Igreja Católica; pois são realidades “opressoras” da mulher.
Mas na verdade foi o oposto; foi o Cristianismo quem libertou a mulher da condição de quase escrava e que se encontrava de modo geral no mundo pagão. O papa João Paulo II afirmou na Carta Apostólica “Dignitatem Mulieris” (n. 12) que: “Admite-se universalmente — e até por parte de quem se posiciona criticamente diante da mensagem cristã — que Cristo se constituiu, perante os seus contemporâneos, promotor da verdadeira dignidade da mulher e da vocação correspondente a tal dignidade. Às vezes, isso provocava estupor, surpresa, muitas vezes raiando o escândalo: «ficaram admirados por estar ele a conversar com uma mulher» (Jo 4, 27), porque este comportamento se distinguia daquele dos seus contemporâneos. «Ficaram admirados» até os próprios discípulos de Cristo. O fariseu, a cuja casa se dirigiu a mulher pecadora para ungir os pés de Jesus com óleo perfumado, «disse consigo: “Se este homem fosse um profeta, saberia quem é e de que espécie é a mulher que o toca: é uma pecadora”» (Lc 7, 39). Estranheza ainda maior ou até «santa indignação» deviam provocar nos ouvintes satisfeitos de si as palavras de Cristo: «Os publicanos e as meretrizes entram adiante de vós no reino de Deus » (Mt21, 31)”.
Cristo e o Cristianismo resgataram a mulher. Naquele tempo ela não podia, por exemplo, ser testemunha diante do Sinédrio, o tribunal dos judeus, sua voz não valia. Quantas mulheres se destacaram no Cristianismo já no seu início. Santa Helena, mãe do imperador romano Constantino foi uma gigante; a rainha dos francos Clotilde, esposa de Clovis, rei dos Francos, Joana DÁrc, e tantas outras santas, mártires. A Igreja lutou contra o adultério também por parte do homem; o que não acontecia no mundo antigo. A proibição do divórcio deu grande proteção às mulheres. Além disso as mulheres obtiveram mais autonomia graças ao Catolicismo. Na Idade Média católica a rainha era coroada como o rei, geralmente na Catedral de Rheims, na França, ou em outras catedrais. E a sua coroação era tão prestigiada quanto a do Rei; o que mostra que a mulher tinha importância. A última rainha a ser coroada foi Maria de Medicis em 1610, na cidade de Paris. Algumas rainhas medievais tiveram papel importante na história, como Leonor de Aquitânia († 1204) e Branca de Castela († 1252); no caso de ausência, doença ou morte do rei, exerciam o seu poder.
Foi só no século XIX, mediante o “Código de Napoleão”, que aconteceu o processo de despojamento da mulher novamente: deixou de ser reconhecida como senhora dos seus próprios bens, e, em casa mesmo, passou a exercer papel inferior.
A mulher foi por muitos séculos a reserva moral do Ocidente. A ela competia o ensino daquelas coisas que se não se aprende nos primeiros anos de vida, não se aprendem mais. Ela ensinava os filhos a rezar e a distinguir o bem do mal; ensinava o valor da família e das tradições. Mas hoje em dia o feminismo radical, eivado e ateísmo, gerou a banalização do sexo e o hedonismo, fazendo suas vítimas, levando a mulher a perder o sentido do pudor, da maternidade e da piedade.
Isto não significa que, sem descuidar dos afazeres familiares, e na medida de sua vocação, a mulher não possa também dar a contribuição feminina no âmbito a cultura, das artes, da economia, e inclusive a política. Mas tudo isso sem prejuízo do sentido de piedade, do pudor e de maternidade que sempre foram o suporte da formação das pessoas e das sociedades do Ocidente.
Infelizmente hoje cresce esta perigosa ideologia de “gênero” (gender) que avança de maneira destruidora nas escolas e nas universidades, se propaga pela mídia e começa a moldar a cultura do povo. Para esta ideologia não existe mais sexo, apenas “gênero”; é a pessoa que define o seu sexo e não a natureza. Assim, não tem mais sentido falar em pai, mãe, filho, filha, neto, neta, avô, avó, marido e esposa, homem e mulher. Os sexos não são dois, mas cinco: homem heterossexual, homem homossexual, mulher heterossexual, mulher homossexual e bissexuais. Violentando a natureza, se destrói a mulher, o casamento, a família e a sociedade. É isto que começa agora a ser ensinado a nossas crianças e jovens nas escolas.
É por isso que a ideologia de “gênero” odeia a religião, a natureza, a família e o casamento. Tudo precisa ser destruído, desconstruído, por que tudo isso “sufoca e escraviza a mulher”. É preciso não ignorar tudo isso.
Prof. Felipe Aquino - www.cleofas.com.br
Que as mulheres católicas querem no dia dos namorados
Entrevista com a colunista americana Rebecca Ryskind Teti
Por Genevieve Pollock
HAYATTSVILLE, domingo, 14 de fevereiro de 2010 (ZENIT.org).- O dia de São Valentim (dia dos namorados nos EUA e em muitos outros países) celebra-se este domingo. Muitos homens correm para preparar algo que reflita o significado de seus relacionamentos.
Perguntam-se: será que ela quer algo material este ano, como joias ou rosas, ou melhor, um passeio noturno?... Será que ela tem me dado sugestões que eu não escuto?
ZENIT perguntou a Rebecca Ryskind Teti, esposa e mãe, que revela o que as mulheres realmente querem nesta data de 14 de fevereiro. Teti, que tem um blog atualizado diariamente em www.faithandfamilylive.com, perguntou a suas leitoras, mulheres de todo país, sobre seus planos e espectativas para o domingo.
Teti, também colabora em Faith & Family Magazine e é colunista da seção In Good Company da Catholic News Agency.
–Com a proximidade do dia de São Valentim, estamos sendo bombardeados com anúncios de televisão que dão a impressão de que todas as mulheres querem neste dia 14 diamantes e telefones celulares. Essas coisas materiais fazem realmente as mulheres felizes? O que faz as mulheres felizes ?
–Teti: Os presentes ajudam! Os anúncios exageram para vender produtos concretos, mas na medida em que um presente é uma amostra de algo mais profundo - de amor, afeto ou reconhecimento - com certeza é muito agradável.
A publicidade às vezes nos ofende com a ideia de que as mulheres vivem para os presentes, de que os presentes têm de ser extravagantes para valer.
Não devemos descuidar do argumento positivo que também está presente, que tivemos um tempo para demonstrar à pessoa amada nosso apresso.
As coisas materiais não têm poder de nos fazerem felizes, mas fazem que nossa rotina diária saia um pouco do convencional. Não somente vivemos de pão, porém damos graças pelo pão.
–O que as mulheres desejam, especialmente as católicas, no dia de São Valentim?
–A maioria de nossas leitoras menciona que espera as satisfações simples: um cartão, chocolate, talvez uma rosa. Algumas estão esperando uma oportunidade para sair, enquanto outras esperando uma noite tranquila em casa.
Independentemente da forma de sua imaginação, contudo, o que todas as mulheres casadas que responderam querem é passar um tempo com seus maridos. O desejo parece ser o de romper a rotina diária das tarefas e obrigações, e somente poder desfrutar da companhia do outro por um tempo.
Uma mulher, rindo, pedia brincos de zafira, mas disse que não os esperava este ano. Estava pensando em muitos anos pela frente - talvez um extravagante dia dos namorados que pudesse acontecer uma vez em sua vida de casada.
–O que buscam particularmente as mulheres em seus maridos?
–Teti: Essa é uma pergunta que tem uma resposta grande! Vou limitar minha resposta a algo que se restrinja ao dia dos namorados.
Graças à “Teologia do Corpo”, do venerável João Paulo II, a Igreja compreende mais profundamente que nunca o sentido da linha do Gênesis: “homem e mulher os criou”.
Em outras palavras, o homem e a mulher juntos apresentam à humanidade uma imagem de Deus.
A vocação da mulher é a de revelar a beleza de Deus ao mundo.
A mulher foi feita para ser bela. A ênfase de nossa cultura na beleza física não é equivocada, muito pouco profunda e frequentemente mal dirigida.
A maneira mais profunda que demonstra como uma mulher é bela é quando revela aos demais sua própria bondade, ensinando o amor que Deus tem para eles. Esse é o “gênio feminino”: revelar a bondade da pessoa humana, e portanto a beleza de Deus.
O que a Madre Teresa de Calcutá fez pelos pobres, cada mulher pode fazer em seu meio de vida, e certamente cada mãe o faz em sua casa por seu marido e filhos.
Este é o mais satisfatório e feliz “trabalho” das mulheres, mas há em cada mulher a necessidade emocional de sentir que sua beleza é apreciada.
Uma das melhores coisas que um homem pode fazer por sua esposa é lhe dizer que é bela. Esse é o verdadeiro significado de um gesto romântico para a maioria das esposas, eu penso: É um sinal de que não seja apreciada como cozinheira ou motorista, mas amá-la como esposa.
–O dia dos namorados tem suas raízes no cristianismo. Na verdade, existem vários santos chamados Valentim que foram mártires da Igreja primitiva. O que acontece com essa festa cristã, que tanto apela para a cultura popular que tem sido tão bem acolhida?
–Teti: Creio que temos de agradecer ao escritor Geoffrey Chaucer por isso. Mas não se sabe muito sobre qualquer um dos santos chamados Valentim.
–Na cultura popular, pode parecer que o dia dos namorados foi convertido em um dia sobre o sexo e sobre ser sexy ao invés do amor. Há lugar para essas duas ideologias nessa data?
–Teti: O catolicismo não é puritano. O enfoque da cultura católica sempre foi associado com a aceitação do que é saudável e superar o que está ruim com o bem.
É claro, não há necessidade de celebrar o dia de São Valentim, não é um dia de preceito!
Mas para aqueles que escolhem celebrar, não há nenhuma razão para que não possa ser uma oportunidade de celebrar o amor humano em todas suas dimensões - incluindo a romântica e a erótica, que são parte do que Deus deixou como dom para maridos e esposas.
Com base no discurso retórico da "extensão de direitos", em numerosos casos se esconde a ocultação de direitos que são sim fundamentais. Quero ressaltar que hoje o Conselho de Ministros vai aprovar um informe que, de fato, permite o aborto livre em nosso país (Espanha), e o vai fazer envolvendo-se no discurso dos direitos da mulher, ignorando que o direito à maternidade é um direito fundamental e requer proteção e apoio. Há propostas que, por mais que se vistam de retórica, não passam disso, essa é uma delas: O ABORTO NUNCA É UMA SOLUÇÃO, É UM FRACASSO PESSOAL E SOCIAL (...) ALGO GRAVE FALTA EM NOSSA SOCIEDADE QUANDO NÃO SOMOS CAPAZES DE GARANTIR UM DIREITO TÃO BÁSICO E TÃO ÍNTIMO.
Entrevista com a socióloga chilena Ana María Yévenes Ramírez
Por Gilberto Hernández García
SANTIAGO DO CHILE, domingo, 7 de junho de 2009 (ZENIT.org-El Observador).- O tema da ideologia de gênero – em sua vertente mais difundida de “equidade de gênero” – ganhou muitas posições no cenário social e na agenda política; contudo, continua sendo um tópico difícil de se tratar visto que em muitos aspectos e em suas origens aponta em sentido contrário à essência da família.
A doutora Ana María Yévenez Ramírez, socióloga chilena e especialista em temas da família, faz uma análise da ideologia de gênero desde as ciências sociais e particularmente a partir da análise cultural. Esclarece que não pretende “demonizar absolutamente nada”, o que não significa a ausência de uma visão crítica.
–O gênero é uma “construção” social?
–Ana María Yévenes Ramírez: A ideologia de gênero tem suas raízes nos movimentos feministas radicais dos anos sessenta, já que alguns autores que iniciaram esta ideologia dizem que o gênero é uma construção cultural, por conseguinte não é resultado do sexo, nem tão aparentemente fixo como o próprio sexo. Ao teorizar sobre isto, o gênero vem a ser como um artifício livre de ataduras; em consequência, homem e masculino poderiam significar tanto um corpo feminino como um masculino; mulher e feminino, tanto um corpo masculino como um feminino.
Estas ideias estiveram presentes dentro do debate que se fez tanto na opinião pública como nas discussões da IV Conferência da Mulher, patrocinada pela ONU em Pequim em 1995: As feministas de gênero manifestaram a urgência de desconstruir os papéis sociais de homem e mulher porque esta socialização afetava a mulher negativa e injustamente. O homem-marido, desde esta perspectiva, então aparece como um opressor, e passamos aqui do que é o conceito de luta de classes ao que podemos chamar luta de sexos.
Assim, o matrimônio e a família podem ser vistos quase como uma seita, e a maternidade como um estorvo. Toda diferença entre o homem e a mulher, sob esta visão, é construção social e portanto pode ser mudada. Já não existem, desta forma, dois sexo, mas muitas orientações sexuais.
–Como uma ideologia tão distante do normal teve tanta acolhida?
–Ana María Yévenes Ramírez: Porque abordou um problema real, a situação desvalorizada da mulher. Desta forma, a ideologia de gênero faz surgir o conceito de tomada de poder político, econômico, trabalhista e na relação com o casal. Deve-se ter em conta que as linhas originais sofreram grandes mudanças. Não chega às pessoas o que é a ideologia de gênero, digamos, de maneira quimicamente pura, como acontecem com todas as coisas. Particularmente na América Latina, vivemos processos de individuação e mestiçagem. Por exemplo, fala-se do combate do machismo, como bandeira de luta tão presente no México. No Chile, há muitas mulheres que participaram de programas dos diferentes governos no tema da igualdade de gênero, mas quando se lhes propõem estes outros temas, a visão da família, a visão da maternidade, não concordam com isso.
O que hoje se aplica como equidade de gênero não é o que originalmente se aplicava a este pensamento; este processo de mestiçagem é parte da mudança cultural mais profunda que se produz em nossa sociedade. Basta lembrar que a mudança se inicia em como usamos nossas palavras, na linguagem que utilizamos. Junto com a crítica que se dirige a esta ideologia, devemos fazer-nos uma autocrítica como Igreja Católica: que resposta nós demos a esta problemática de fundo? Sinto que muito do que aconteceu é nossa responsabilidade por nosso silêncio, por não termos respondido a essa necessidade que havia dentro da cultura.
–A ideologia de gênero oferece alguma contribuição positiva?
–Ana María Yévenes Ramírez: Primeiramente, colocar a mulher no foco porque objetivamente a mulher estava sendo de alguma forma ignorada: parte disso é porque o tema do trabalho remunerado considerava o trabalho doméstico muito distante. Também a ideologia de gênero trouxe melhoras substanciais em matéria de saúde da mulher; maior cuidado físico, por exemplo na detenção de alguns tipos de câncer; uma maior preocupação pelo corpo; trouxe também uma maior proteção à mulher quanto ao tema da violência familiar; ou em matéria trabalhista. Permitiu melhorar o acesso a uma maior educação formal da mulher.
–E negativa?
–Ana María Yévenes Ramírez: A ideologia de gênero fomentou uma tomada de poder antagônica da mulher contra o homem. Na prática, transformou a mulher em um objeto que era exatamente o que se pretendia combater. Digo um objeto, porque segundo muitos textos dos estudos que estão sendo desenvolvidos sobre esta matéria, se privilegia a dimensão econômica, do desenvolvimento, do trabalho acima do desenvolvimento humano e próprio da mulher, consequência precisamente do anterior é que o desenvolvimento integral da mulher está se tornando um obstáculo, e com isso a mulher está sendo privada da felicidade.
–Finalmente, quais são as repercussões na família?
–Ana María Yévenes Ramírez: Não é um mistério para ninguém como aumentou o número de mulheres assassinadas por seus companheiros porque não se trabalhou com os homens na mesma velocidade com que se trabalhou com as mulheres. Também causou impacto no tema do testemunho, porque ao final nossos jovens se entusiasmam pelo matrimônio pelo testemunho que recebem, testemunho de amor, de companheirismo. E mais, está-se colocando em cheque o desenvolvimento dos povos.
Resposta do Cônego José Luiz Villac - O autor da pergunta faz bem em colocar a questão no campo da alteração dos costumes, porque o aspecto da imoralidade dos trajes é de si tão evidente que dispensaria qualquer comentário. Em todo caso, como hoje até os pontos mais óbvios deixaram de sê-lo, convém dizer aqui uma palavra de esclarecimento sobre o assunto.
Quando vamos a uma igreja, e portanto vamos nos apresentar de modo muito especial diante de Deus, para prestar-Lhe nossas homenagens (nosso culto), ou para pedir-Lhe graças, é claro que não podemos estar vestidos de modo oposto aos princípios de moralidade por Ele estabelecidos já no Paraíso Terrestre, quando velou a nudez de nossos primeiros pais, vestindo-os com túnicas de peles (Gn 3, 21). E também nos Mandamentos da Lei de Deus (o 6º, “não pecar contra a castidade”, e o 9º, “não desejar a mulher do próximo”). E ainda às normas concretas introduzidas pela Igreja, consignadas em todos os Tratados de Teologia Moral que, ao abordar a virtude da Castidade e o 6º Mandamento, determinam em que medida certas partes do corpo devem ser veladas pelo traje e não expostas em razão do estímulo que exercem sobre a sensualidade.
Mas o problema hoje deve ser visto dentro de um panorama mais vasto: não são apenas os indivíduos isolados que desrespeitam as normas da Igreja, mas é toda uma sociedade que perdeu a noção do sacral (sagrado) e está imersa numa atmosfera de secularismo, da qual Deus está parcial ou totalmente ausente ou, mais precisamente, da qual foi expulso!
Expliquemos melhor o sentido de secularismo. Esta palavra deriva obviamente de século, e é tomada aqui no sentido de o presente século (o mundo atual), por oposição ao século futuro, que é a vida eterna no Céu. É contra os princípios, as normas e os costumes deste século que São Paulo nos advertia ao dizer: “Não vos conformeis a este século” (Rom 12, 2). Isto é, não modeleis vossa vida, vosso modo de proceder, de vestir etc., segundo os princípios deste século (deste mundo), que são opostos aos princípios de Deus. É a contraposição que, com outras palavras, Santo Agostinho estabelece entre cidade terrena e cidade celeste.
Isto sempre foi assim, e assim será até o fim do mundo. Mas a expansão dos princípios do Evangelho pode fazer recuar os limites da cidade terrena e dilatar as fronteiras da cidade celeste. Ou seja, fazer com que, na prática de todos os dias -- dos povos como dos indivíduos – os princípios católicos sejam mais amados e seguidos.
O Papa Leão XIII – Quadro de Lenbach: Em sua encíclica Immortale Dei, este Sumo Pontífice pronunciou um dos mais lapidares elogios da Cristandade medieval “Tempo houve em que a filosofia do Evangelho governava os Estados”, observou o Papa Leão XIII na encíclica Immortale Dei, referindo-se à Idade Média. A Igreja gozava então de enorme prestígio, e suas normas valiam para toda a sociedade. De lá para cá, infelizmente, os princípios do Evangelho foram perdendo força na sociedade, esta foi se secularizando, a Igreja foi sendo paulatinamente marginalizada e com ela a moral. E chegamos aos dias de hoje, em que os princípios do Evangelho só são seguidos, na teoria e/ou na prática, por um número ínfimo de pessoas. Mesmo entre aquelas que freqüentam as igrejas...
À pergunta, pois, se “houve alguma norma da Igreja permitindo essa mudança” deve-se responder que, independente de algum Bispo ou sacerdote que abriu as portas da sua igreja para gente vestida como o consulente descreve, o que houve foi uma invasão tempestuosa dos ventos do secularismo dentro do recinto das igrejas! Sem pedir licença, com a licença ou contra a licença dos responsáveis por nossas igrejas! A cidade terrena - secularizada - dilatou suas fronteiras e invadiu até os limites da cidade celeste. A imoralidade entrou galopante.
De modo que, para consertar tal situação, não bastará revigorar as normas sabiamente emitidas pelas autoridades eclesiásticas de outrora. É preciso banir, teórica e praticamente, os princípios e as normas de conduta impostas pelo secularismo. O que equivale a dizer que é preciso impregnar novamente toda a sociedade com os princípios do Evangelho e recolocar Jesus Cristo e sua Igreja no centro de todas as coisas.
O que não se conseguirá sem um árduo combate dos que permanecerem fiéis aos ensinamentos da Santa Igreja. Mas sobretudo não se conseguirá sem uma intervenção especial da Providência nos acontecimentos humanos, chamando os homens à razão - eventualmente com o desencadeamento de castigos sobre a humanidade prevaricadora - e abrindo os seus corações à ação da graça divina, por meio de uma atuação potentíssima de Nossa Senhora, Medianeira de todas as graças. Sobre como isso possa ocorrer, a Mensagem de Fátima traz esclarecimentos muito confortadores.