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Carta de uma mãe para sua filha sobre “quantos filhos ter”
Querida Grace,
Na nossa última visita nós entramos na conversa de “planejamento familiar”, se lembra? Todos falaram algo e muitas coisas foram ditas, mas desde lá eu tenho querido te escrever algumas poucas coisas somente para você.
Eu me lembro muito bem como foi com o seu pai e comigo. Nós tínhamos o mesmo problema que você e todos os outros jovens casais estão tendo agora. É o maior problema que vocês terão durante este tempo. Eu não tinha ninguém para consultar, e eu rezei e tentei achar uma solução. E eu gostaria de te dizer, se pudesse, como achar sua resposta.
Grace, por favor não sinta esta carta como uma sermão que eu estou pregando, ou que eu sinta que as minhas conclusões sejam a única possível. É só porque eu te amo tanto que eu quero te ajudar, mesmo que eu não te diga nada que você já não saiba.
Antes de tudo, eu sinto que o único que pode te ajudar é Nosso Senhor. Pergunte a Ele o que Ele quer de você. Nós somos tão diferentes. Ele nos colocou todos aqui, Ele sabe o que Ele quer de cada um de nós. Talvez não seja nada daquilo que nós pensamos. Por isso é que devemos perguntar a Ele. Coloque você, sua família sua vida em Suas mãos. Ele não pode fazer um erro planejando a sua vida, mas você pode.
Houve dois momentos da minha vida que eu estava desesperadamente lutando com a vontade de Deus, ou aquilo que eu pensava que era a vontade de Deus. Então quando eu parei de lutar e decidi aceitar, eu descobri que aquilo que eu estava com medo não era Sua vontade. Mas eu não pude descobrir isso enquanto eu estava brigando. Desde então honestamente eu posso dizer que qualquer coisa que eu sinta que Deus me esteja pedindo para fazer, grande ou pequeno, fácil ou difícil, isso é o que eu tento fazer. Para isso eu fui feita. Eu tenho aprendido a acolher o que Deus envia e não brigar ou me preocupar, somente confiar Nele. De fato, isso é uma maneira fácil de viver quando você assume isso.
Para aprender a vontade Dele na minha vida diária, eu rezo uma oração ao Espírito Santo toda manhã. Então sigo o dia confiadamente. Sempre houve mais trabalhos do que eu razoavelmente podia fazer, então eu tinha que fazer eleições. Eu nunca poderia ter criado 11 filhos, mantido esta casa, cozinhado, lavado, passado e feito todo o resto sozinha, sem ajuda espiritual. Então eu tinha que saber qual era a coisa mais importante, e uma de cada vez.
Eu trabalhei o dia inteiro e raramente saia. Mesmo assim as camas não eram feitas todos os dias, o carpete não era aspirado, e a poeira geralmente estava comigo. Mas papai sempre foi tão bom. Ele nunca esperou demais, Ele sempre entendeu quão cheia minhas mãos estavam.
Eventualmente eu aprendi a viver na presença de Deus. Eu tenho uma cruz que eu beijo várias vezes durante o dia como ajuda e guia e também porque eu quero amar mais a Deus. Eu trato de não me enlouquecer com minhas obrigações. Eu já não vou fazendo as coisas com toda a minha força preocupada com aquilo que ainda me falta fazer. Eu vou para cada tarefa como se somente tivesse aquela. Quando termino, silenciosamente pergunto para o Senhor qual será o próximo.
Em toda grande decisão eu tomo o cuidado de ir ou na Igreja ou de rezar em casa quando eu posso estar sozinha por um tempinho. No inicio era difícil porque eu estava esperando uma resposta direta, prontamente. Mas eu me dei conta que depois que eu gastei um tempinho conversando com Deus e com Sua Santa Mãe, eu sempre tive a graça de não me preocupar, em deixar em suas mãos. Isso em si é mesmo maravilhoso. Então, na Sua própria maneira, Deus responde.
Agora, sobre sua dúvida sobre método e espaçamento de seus filhos, lógico que você e o Tom devem chegar a uma conclusão de vocês, mas primeiro pergunta a Deus o que Ele quer.
Você diz que está nervosa e que não pode ter uma família grande. Acho que você deveria buscar o que te faz nervosa...
Cada um tem alguma desculpa para deixar de ter filhos. Algumas pessoas tem problemas reais, eu sei, mas porque deixar de ter bebês é sempre a solução? Lógico, saúde precária, falta de dinheiro, etc. tudo pode ser razões. Se elas são, então mais que nunca se precisa da ajuda de Deus, muito mais –eu acho- do que frente a qualquer dificuldade que possa a vir em ter uma família numerosa.
Você e eu escolhemos o matrimônio. A intenção de Deus para o matrimônio é para trazer crianças ao mundo. Ele não fez o matrimônio para que as duas pessoas tivessem dois carros, móveis bonitos, barcos e tudo o que eu vejo muita gente passando a vida para conseguir.
Eu não conheço ninguém na minha idade que tenha aproveitado mais a vida do que eu ou que tenha melhor saúde que eu tenho agora. Não ter podido ter filho ou ter somente dois ou três poderia ter sido um problema maior do que todos os outros relacionados com uma família numerosa. Mesmo se alguém encontrar uma maneira de limitar os filhos que a Igreja aprova, eu ainda sinto que ter crianças é a maneira mais fácil de viver o estado matrimonial e a maneira mais feliz e mais recompensadora.
Eu divido a vida de uma mulher em períodos de 20 anos. Os primeiros são fáceis e sem precisar de cuidado. Os outros são os anos de trabalho e os últimos de viver a recompensa. Então por que tentar viver para conseguir ter a menor recompensa possível? Por que não trabalhar pela maior recompensa possível?
Filha, eu sei que pode ser difícil para você aceitar isso agora. Mas seja paciente consigo mesma. Quando você é jovem você gosta de fazer muitas coisas que em poucos anos não te interessaram mais. Deus sabe disso. Coloque sua confiança Nele. Vá dia por dia, hora por hora.
Estes anos são os mais difíceis, eu acho, mas quando o maior puder fazer coisas por ele mesmo você verá como começa a ficar mais fácil. Aos 52 eu ainda tenho 7 crianças em casa, mas todos tomam conta deles mesmos na maior parte do tempo. Eu estaria confinada se somente tivesse o Marcos em casa e eu não estaria nem perto da felicidade que tenho agora. Jane, Maria, Daniel, Pedro, Terry e Catarina são minhas alegrias e me trazem tanto amor.
Com cada criança seu coração se alarga em amor; você também tem mais paciência na medida em que você fica mais velha. Então, depois de estar casada há 30 anos como estou, com um esposo que você ama mais do que tudo, você tem momento em que não acredita na alegria que se possa sentir.
Se você e o Tom estão rezando e vocês acham que tem razões suficientes para usar o método ou se abster por alguns meses depois de um nascimento, você pode fazer sem medo e sem estar errando. Mas primeiro, pergunte o que Deus quer. Faça suas decisões junto com Ele. Se nós pelo menos pudéssemos ver o tanto que Ele nos ama quando nós buscamos agradar a Ele. Se serão 3 ou 10 crianças que vocês terão é algo para Deus decidir. Eu te prometo que você será feliz na minha idade se você colocar sua fé em Deus e em Sua Santa Mãe e aceitar o que Ele planeja.
Eu escrevi tanto. Eu gostaria de ter podido dizer isso em poucas linhas. Você é uma criança adorável e tão doce. Você sempre tem feito nós muito felizes. E nós amamos você, o Tom e seus dois lindos filhos. Vocês dois tem feito um maravilhoso começo na sua vida familiar. Eu estou rezando que você irá aprender a deixar Deus trabalhar o resto para você.
Com todo meu amor,
Mãe
Por Maria da Ascenção Ferreira Apolônia | ||||||
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Em janeiro [de 2003] entrou em vigor no Brasil o novo código de Direito Civil, que busca fortalecer a participação da família: pai e mãe na responsabilidade conjunta de educar os filhos, quando a unidade garantida pelo casamento se desfez. Neste momento, em que a sociedade brasileira é convidada a refletir sobre os avanços ou retrocessos do novo código, é conveniente conhecer o longo percurso histórico trilhado por sucessivas gerações no contínuo esforço por garantir à família a estabilidade inerente à união monogâmica. Esse cume de justiça – em que mulher e filhos são considerados pessoas e, portanto, merecedores de condições que lhes assegurem as várias faces do desenvolvimento humano – foi arduamente conquistado, ao longo dos séculos, graças à progressiva implantação do casamento monogâmico, que teve ainda o mérito de instaurar a efetiva e crescente dignificação da mulher, introduzida na Idade Média. Mais do que nunca é oportuno lembrar à sociedade brasileira que esse legado em favor dos mais frágeis: a mulher e os filhos, teve como preço o sangue e as lágrimas das gerações que nos precederam. As conquistas do presente só podem ser avaliadas como vitórias, se não dispensarmos o discernimento que a dimensão histórica é capaz de nos oferecer. Só então estaremos aptos a identificar o que é avanço ou retrocesso, podendo, de peito aberto, festejar e saborear como vitória o que representou um autêntico benefício à sociedade. Do contrário, corremos o risco de levar gato por lebre, e comemorar ingenuamente, como êxito, a nossa própria derrota. Para alcançarmos esse sentido de justiça, é necessário surpreender, com o próprio olhar, a lenta gestação da dignidade da mulher e da família no decurso do processo histórico. Os primeiros passos da humanidade rumo a dignificação da mulher foram registrados, com maior nitidez, a partir do século IX, em grande parte, à medida que a sociedade medieval adotava a prática do casamento monogâmico, que conferiu à mulher um novo estatuto no plano das relações sociais: ela passou a ser o módulo essencial para a constituição da família 1, garantindo-lhe unidade e solidez. Jorge Borges Macedo, em artigo publicado pela revista Oceanos, estuda as causas da participação política e do crescente prestígio social que a mulher conquistou no decorrer da Idade Média. Ele aponta o casamento monogâmico como um dos fatores decisivos para a progressiva intervenção feminina na Corte e nos domínios senhoriais, a partir do século XII, em Portugal. Nas palavras do autor: “Para o mundo medieval, os casamentos reais e senhoriais são atos políticos providos de eficácia pública. Nesse aspecto, a mulher tornou-se, assim, a garantia de funcionamento dos sistema político ou social, assim como a condição básica da sua estabilidade” 2. Para melhor avaliarmos o salto de qualidade que representou a participação feminina no campo político, diligentemente preservado como o espaço por excelência do homem, basta ter em conta a condição da mulher nos séculos em que vigorou o Império Romano. Mediante o patris potestas, cabia ao pai decidir sobre a vida dos filhos que gostaria de alimentar. Tal como ocorre atualmente na China, os meninos eram preferidos em detrimento das meninas, que só gozavam de maior apreço na condição de primeira filha. De acordo com Régine Pernoud, entre os celtas, germânicos e nórdicos vigorava uma maior igualdade entre homem e mulher no interior da família: “O regime familiar inclinava [os cônjuges] a reconhecer o caráter indissolúvel da união entre o homem e a mulher, e, no caso dos francos, por exemplo, constata-se que o wehrgeld, o preço do sangue, é o mesmo para a mulher e para o homem, o que implica um certo sentido de igualdade” 3. Acrescenta que a concepção cristã do casamento, implantada ao longo da Idade Média, em virtude da conversão das tribos bárbaras, propiciou e fortaleceu a igualdade e a reciprocidade entre os esposos. Instaurava-se, por assim dizer, uma simetria no relacionamento entre homem e mulher: “A mulher não pode dispor de seu corpo: ele pertence ao seu marido. E da mesma forma, o marido não pode dispor de seu corpo: ele pertence à sua esposa” (1 Cor 7, 4) 4. Esta concepção radical e renovadora da relação: homem mulher, em confronto com a cultura antiga e pagã de cunho machista, implicou a introdução de uma nova mentalidade e de um novo olhar relativamente à imagem e identidade femininas. E ela só se instaurou pouco a pouco, com forte e inevitável dificuldade, nas regiões que sofreram o domínio romano. Nas palavras do jurista Robert Villers: “Em Roma, a mulher, sem exagero ou paradoxo, não era sujeito de direito... Sua condição pessoal, as relações da mulher com seus pais ou com seu marido são da competência dadomus da qual o pai, o sogro ou o marido são os chefes todo-poderosos... A mulher é unicamente um objeto” 5. Para o Direito Romano, a mulher era uma perpétua menor, que passava da tutela do pai à do marido. Régine Pernoud atribui ainda à reimplantação do Direito Romano, em vários países da Europa, no século XVI, a responsabilidade pelo retrocesso da atuação feminina no âmbito familiar, social e político. A mulher que vinha conquistando espaço, do século X ao XIII, no âmbito familiar, na sociedade e na arte, sofre um eclipse no período subseqüente, resgatando o prestígio que conquistara na sociedade medieval somente no século XX6. Os benefícios do casamento monogâmico não se restringiram à possibilidade de o espaço social e político contar com a intervenção feminina. A mudança mais significativa relativamente à dignidade da mulher deu-se no plano da relação: feminino masculino. Em que condições de segurança viviam as mulheres nas tribos bárbaras, ainda não cristianizadas? Relata Georges Duby que nos primeiros séculos da Idade Média e, em algumas regiões, mesmo nos séculos XI e XII, as mulheres estavam expostas a contínuos riscos quanto à integridade física e emocional 7. Tal como retratam alguns filmes atuais: Coração Valente ou Joana d’Arc, as donzelas eram freqüentemente violentadas. Duby menciona o fato de que bandos de jovens rebeldes eram estimulados a se “divertir” longe das fronteiras da região natal. Por isso invadiam condados vizinhos com o intuito de violentar coletivamente suas mulheres e donzelas. Foram necessários séculos para evoluir da barbárie à civilização no que concerne à relação entre homem e mulher. Porém, o avanço representado pela união monogâmica, como lembra o historiador português Jorge Macedo, atingiria níveis muito mais altos no relacionamento entre homem e mulher. O casamento no mundo ocidental e cristão pressupunha uma troca de informações sobre o outro, base da relação de pessoa a pessoa, que se instaurava no âmbito familiar, à medida que a mulher deixava de ser um mero objeto de fecundação substituível e descartável, para ser uma presença permanente, capaz de contribuir para a unidade e humanização da família. E a arte passaria, ao longo da Idade Média, a exercer um papel social de relevo, ao propiciar o conhecimento da alteridade, na revelação desse mundo interior do outro, cuja contemplação está, muitas vezes, velada nas relações quotidianas, mas que a poesia, o romance, a pintura ou a crônica põem diante dos olhos do leitor, instigando-o a levar em conta as nuanças de sensibilidade, de comportamento ou de valores inerentes ao outro. Como conseqüência da relação pessoal, necessária à prática do casamento monogâmico, fez-se mais claro tanto no quotidiano do ambiente familiar, quanto no universo político e social, que a relação de pessoa a pessoa não podia ser somente um ato voluntário ou de razão 8, mas impregnado de afetividade. Ora, as decisões que se enriqueciam com o ingrediente afetivo, ganhavam em qualidade na constante renovação da responsabilidade que igualmente implicavam. Afirma Borges que o estudo e a análise das relações de afeto no casamento monogâmico, tornou-se “(...) uma característica essencial de todas as sociedades européias: o universo afetivo de escolha e a consciência íntima que a ela preside tornaram-se, em pouco tempo, essenciais ao quotidiano, assim como o cerne da focagem literária e artística do ideal da convivência e um campo necessário de expressão moral e antropológica”9. Em síntese, no casamento monogâmico está pressuposto um conceito muito alto do ser humano, que não merece menos do que a fidelidade recíproca entre homem e mulher. O mesmo se dá em relação aos filhos, que não merecem menos do que a presença acolhedora, afetiva e exigente dos pais, cujos esforços convergem para a humanização da família e, de modo especial, dos filhos. Nada substitui o cume em humanidade representado pela união monogâmica, incluído o novo código civil, no esforço por minimizar a perda imposta às vítimas de um casamento que se desfez ou que não houve. Mas, nesse momento, em pleno século XXI, impõe-se a pergunta: não seria um retrocesso apontar os benefícios do casamento monogâmico, quando a mídia e alguns segmentos da sociedade aplaudem o namoro e o casamento descartáveis? Não. Em hipótese alguma. O casamento ou o namoro à dinamarquesa, inerentes à barbárie, é que constituem um retrocesso relativamente à união monogâmica, e só se instauram – tal como assinala o percurso histórico –, mediante o rebaixamento do cônjuge à condição de ser descartável, diminuído por um amor (seria amor?) tão desumano quanto a maionese ou a margarina: com prazo de validade vencido. Em suma, a poligamia, oficiosa ou garantida por lei, reduz homem e mulher à categoria de ingênua marionete no jogo machista ou feminista do prazer a qualquer preço. E, neste caso, o preço é alto, muito alto: a angústia de se sentir usado, a dor e o sabor amargos de quem negou a si mesmo o direito de amar e ser amado como pessoa, e consentiu em desprezar-se, vivendo dos despojos de sua própria humanidade. NOTAS: (1) Cf. Jorge Borges Macedo, “Mulheres e Política no século XV português”. In: Oceanos: Mulheres no mar salgado, n.21, jan-mar 1995, pág.19. (2) Ibidem. (3) La femme au temps des cathédrales, Stock, Paris, 1980, pág. 172. (4) cf. Idem, págs.173-174. (5) Idem, págs.19-20. (6) A esse respeito, leia-se o prefácio da historiadora francesa que serve de apresentação à obra acima citada. (7) Sobre esse assunto, consulte-se, do mencionado autor, a obra: Damas do século XII: a lembrança das ancestrais (tradução de Maria Lúcia Machado), Companhia das Letras, São Paulo, 1997. (8) Jorge Borges Macedo, op. cit., pág.19. (9) Idem. | ||||||
Maria da Ascenção Ferreira Apolônia Doutora em Literatura Portuguesa pela USP, professora na Universidade São Marcos, e pós-doutoranda na UNICAMP, onde desenvolve projeto de pesquisa sobre a imagem e identidade femininas. |
Abaixo, alguns exemplos de pinturas, desenhos e retratos...
Não esqueçamos, todavia, de alguns exemplos bem reais que colocamos em nosso blog, destacando-se:
De novo, Audrey Hepburn
Sua xará, Audrey Tautou
Rainha Rania da Jordânia e de novo aqui
Eis as imagens de que falávamos: