Todas nós devemos nos vestir iguais para sermos modestas?

quinta-feira, agosto 20, 2015

É uma pergunta que me fazem seguidamente. E acompanhando alguns fashion blogs preocupados com o recato e a formação cristã da feminilidade, acabo esbarrando nesse tema. Para que eu seja modesta preciso usar uma espécie de uniforme? Em outras palavras, a modéstia é um estilo, como os estilos clássico, contemporâneo, esportivo etc? É necessário que, se eu queira ser modesta, deva adotar exatamente tal roupa, tal acessório, tal sapato, tal estampa, tal metragem de saia, tal folga na calça? 

Veja, Deus chamou a cada um de nós para sermos nós mesmas. Deus me quer santa como Aline. É a Aline que deve se santificar sendo Aline. No meu estado de vida, nas minhas condições sociais, financeiras, culturais, de tempo e lugar. Preciso me santificar sendo a Aline que é esposa, mãe de quatro filhos (por enquanto), advogada, professora, blogueira de moda, gaúcha, que vive em uma cidade pequena, com uma profunda vivência rural, ainda que transite em meios urbanos também, que tem um estilo de roupa que combina o clássico, o sofisticado e o romântico.

Não posso me santificar sendo você. Você não pode se santificar sendo eu. Nem mesmo nós duas podemos nos santificar sendo São Francisco de Assis ou Santa Teresinha ou São Luís IX. São Francisco foi um frade medieval, fundador de uma Ordem mendicante, diácono, filho de um rico comerciante, e excelente pregador do Evangelho, itinerante e grande missionário. Ele se santificou, respondendo à graça de Deus, em suas circunstâncias pessoais. Santa Teresinha foi uma menina com um temperamento melancólico, que sofria de escrúpulos, e que encontrou o seu chamado à santidade no Carmelo, reclusa e sem sair de seu mosteiro. Também ela se santificou em suas circunstâncias e não sendo uma cópia de São Francisco. Já São Luís IX foi um rei francês, cruzado, casado e pai de família, e que se santificou justamente sendo rei, cruzado, marido e pai, e não sendo um Francisco ou uma Teresinha.

Noé foi chamado a construir uma arca para salvar os animais e os homens que encontraram graça diante de Deus na iminência do dilúvio. Moisés foi chamado a libertar Israel das mãos dos egípcios. Ester foi chamada a casar com o rei Assuero e livrar os judeus da morte. Jeremias, Isaías, Elias, Ezequiel a serem profetas. São João Batista a pregar no deserto, vestindo-se pobremente e anunciando a vinda próxima do Messias, que era seu primo. São Pedro a ser o primeiro Papa, o chefe do Colégio dos Apóstolos. São Paulo a pregar aos não-judeus, ganhando os gentios para Cristo. Nenhum deles foi o outro. Cada um se manteve fiel ao seu próprio chamado. O que os une é que foram chamados à santidade, mas se santificaram em suas próprias vidas, com suas próprias circunstâncias, temperamentos, épocas e meios.

Para a santificação, é preciso responder à graça de Deus, ao que o Espírito Santo, que nos convence do pecado, nos diz. E isso é universal: todos somos chamados à santidade. E como a santidade, a resposta à graça, envolve uma mudança de vida e a adoção de um comportamento moral agradável ao Senhor, isso importa também, principalmente às mulheres, na adoção de roupas que reflitam o caráter cristão e a dignidade humana, em suma, em vestir-se com modéstia e pudor.

Assim, em resumo, todas nós devemos ser modestas em nossa vestimenta. Mas a expressão da modéstia poderá variar segundo uma série de fatores. 





Em primeiro lugar a própria compreensão da modéstia. A Igreja nos manda ser modestas. Ponto. Mas ela não desce a detalhes mediante documentos infalíveis. É verdade que, em determinadas épocas, alguns Bispos e mesmo santos chegaram a aconselhar coisas bem práticas, mas é preciso ter em vista o contexto. O que é modesto em uma época e cultura pode ser imodesto em outro ambiente. Assim, a nossa própria consciência pode variar, desde que estejamos unidas todas nos princípios, esses, sim, invariáveis. Desse modo, é possível que alguma leitora tenha uma concepção mais rigorosa ou mais laxista de como aplicar a modéstia, e isso não errado, guardados bem firmes os princípios de que, com um ou outro modo de aplicar a virtude, todas estejamos convencidas de que é preciso sermos modestas.

Depois, é necessário levar em conta os estilos pessoais, os gostos. Eu, como uma mulher mais clássica puxando pro sofisticado e com alguma coisa de estilo romântico, posso me vestir de determinada forma que não agrade quem é completamente moderna ou é mais ou adota um bem mais romântico ou do que eu. Uma mulher mais fashionista, e que não tem medo de experimentar, pode não se sentir muito à vontade com roupas que eu, pessoalmente, gosto, como casaquetos chanel, saias lápis, vestidos ladylike com poás. Uma leitora bem urbana e que gosta de usar tênis nem sempre se identifica com minhas fotos usando bota de montaria. Por outro lado, como, embora clássica, tenho influências do estilo sofisticado (e, bem entendido o termo, até do estilo mais "sexy"), gosto de usar legging de couro e também bota over the knee, e uma leitora que seja completamente clássica ou mais clássica do que eu não se sente confortável usando as mesmas peças, mantendo-se fiel ao básico tailleur (que eu também adoro e uso, ainda que nem sempre). No entanto, seja qual for o seu estilo pessoal, qualquer um deles pode ser modesto. Quer conhecer mais sobre estilos pessoais? Leia isso.



Também as nossas condições peculiares de vida influenciam na roupa que vestimos. Uma mulher que é apenas dona de casa e mãe e que não tem empregada doméstica para ajudar nem sempre vai poder estar impecável como aquela que, também dona de casa e mãe, tem empregados a lhe ajudar, ou uma advogada ou uma executiva de uma grande empresa, ou uma juíza ou delegada de Polícia. Uma moça que precise pegar dois ônibus para ir à faculdade tem condições pessoais diferentes daquelas mulheres que dirigem seus próprios carros para ir a um trabalho. Uma modelo de sucesso, que desfila em Milão e Nova York, é diferente de uma professora estadual, e uma mulher que mora em uma fazenda é diferente de uma absolutamente urbana. Quem tem por diversão costumeira frequentar bailes de gala ou exposições de arte em galerias chiques comporta-se de modo diverso de quem pouco tempo para o lazer ou que se ocupa, em seu hobby, com trabalhos manuais ou gosta de ficar em casa debaixo das cobertas lendo um bom livro. E por isso se vestirão de formas diferentes. De qualquer modo, qualquer uma delas, até a mãe com seis filhos e sem ajuda de uma empregada (ainda que com mais dificuldade) pode e deve ser não só modesta, como até elegante! Tempo é questão de preferência, e falta de dinheiro não escusa a falta de elegância. Veja aqui como ser modesta e mesmo elegantíssima mesmo não sendo rica nem tendo tempo de sobra.

Todas nós devemos ser modestas. E mais: todas nós devemos ser elegantes. Mas cada uma de nós em seu contexto, sendo nós mesmas. Você será modesta e elegante sendo você: com a sua condição social, sua profissão, sua concepção na aplicação da modéstia, seu ambiente, sua localidade, seu dinheiro, seu estado civil, suas obrigações, seus gostos e seu estilo pessoal para roupas. Eu, com os meus. E todas nós, atentas ao chamado universal à santidade e aos chamados particulares a como expressar essa santidade, nos encontraremos, com a roupa nova da graça transformada em glória no céu, junto a Jesus.



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5 comentários

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Adorei. Sempre na vanguarda. Compondo com extremo bom gosto looks casuais, clássicos, primando pelo recato, pela honra a Deus e a família. Como é bom poder ler bons artigos. Bom ter conhecido esse apostolado, inspirador. Família admirável. Obrigada pela leitura oferecida as seguidoras e leitoras. Márcia Silveira.

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  3. Perfeito texto! Bom senso e discernimento é tudo quando se trata de modéstia. Temos que fugir da idéia de cópias, proposta pelo mundo e não por Cristo.

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  4. Muito bom seu texto e seu blog também! Somos chamadas a viver a modéstia em nossa realidade. Eu como professora, gosto de um visual despojado e confortável, mas não dispenso uma roupa mais social para sair com os amigos rsrs.

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